domingo, 9 de janeiro de 2011

Varadouro: neste número 10

Varadouro: neste número 10
Por Elson Martins
O Editorial da edição 10, que marca um ano de existência do jornal, comemora o feito nestes termos:
“Permitam-me uma pequena digressão: há um ano, quando apareceu o primeiro número de Varadouro, alguns amigos, embora bondosamente apoiassem a iniciativa de se fazer um jornal independente e democrático para o Acre e sua gente, lá adiante, na outra esquina, sacudiam a cabeça para dizer que não passaríamos do número três. De fato, por pouco não ficamos no número dois. Simplesmente, faltou-nos o principal: a gráfica para rodar o jornal! Como, porém, já tínhamos cometido a extravagância de “importar” 300 quilos de chumbo do Rio de Janeiro, poderíamos cometer outra: por que não imprimir o jornal em São Paulo?
“Embora isso representasse uma sangria em nossas minguadas finanças, imprimimos o três, quatro e cinco em São Paulo. Posteriormente, as condições se alteraram e tiramos os demais por aqui, com a colaboração do nosso ágil linotipista Nilder Mota e, sobretudo, da Artes Gráficas Dois Oceanos. Desse modo, aos trancos, às vezes com atrasos na periodicidade, chegamos a um ano de Varadouro, uma pequena história que estamos contando a partir da página 11”..
A história começa na página 11 com uma apresentação do “pessoal” que fazia o jornal, com destaque para o “seu” Raimundo, um velho seringueiro que o estudante de direito Arquilau de Castro Melo (hoje desembargador) levou para ser vigia do prédio, mas que acabou se revelando imbatível na venda de exemplares no “pregão”. Nas páginas seguintes (12 e 13), publicamos a opinião dos leitores locais e reproduzimos a acolhida que o Vara teve na mídia nacional.  Jornal de Brasília, Pasquim, Movimento, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Boletim da ABI e o Guaporé, entre outros, massagearam nosso ego pra valer.
Celso Araújo, que escrevia uma seção de cultura no Jornal de Brasília, fez um longo comentário e o encerra desta maneira: “ Pois o ‘jornal das selvas’ vem com uma intenção parecida e já está indo corajosamente, através da população acreana, com um trabalho lúcido e quase didático. Uma linguagem simples e acessível à população local, porém corajosa e educativa”.
Entre os comentários locais não teve apenas elogio: Um soldado da PM que, obviamente, pediu para não ser identificado, disse que o jornal tinha um “pequeno defeito: faz críticas muito severas, duras até”. Bom, ele foi o único a estranhar a linha editorial do jornal; outros 35 depoimentos a aplaudem, ainda que tivéssemos orientado nossos repórteres para equilibrar a enquête.
A edição circulou em junho de 1978, mas o tema de capa tinha cara de 1º. de Maio: “Trabalhadores: se a gente se unir numa boca só...”. Dá para perceber que houve atraso de um mês em sua preparação. Nada demais! Naqueles tempos os trabalhadores de diferentes categorias viviam mobilizados o tempo todo, não apenas para comemorar uma data transformada em feriado. O jornal abriu espaço para todo mundo falar (numa boca só...): trabalhador rural, lavadeira, empregada doméstica, estivador e professora -todos comiam o pão que o diabo amassava.
Finalmente, na contracapa um seringueiro de Tarauacá conta como sua família foi expulsa do seringal Araripe pelo projeto agropecuário Cinco Estrelas. Título da matéria: “Como expulsar seringueiros com incentivos da Sudam”. O vilão da história é o capataz Gil Meireles, a quem o seringueiro Francisco Lopes dos Santos, uma das vítimas,  descreveu assim:
“Ele era paparicado pelo prefeito, reverenciado pelo juiz de direito e respeitado pelo delegado de polícia. Gil falava aos seringueiros olhando por cima, as pernas entreabertas, a mão no coldre de um 45, como nos filmes de mocinho”.

Nenhum comentário:

Páginas