sábado, 6 de setembro de 2008

VIDÉO PESSOAS ESPECIAIS

Flaviana

Por nao estarem distraídos




Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.

Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não.

Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles.

Então a grande dança dos erros.

O cerimonial das palavras desacertadas.

Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.

No entanto ele que estava ali.

Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.

Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos.

Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham.

Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.

Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.

Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

Dos sonhos !



Postado por Paulo Coelho em 04 de Setembro de 2008 às 00:21

Ninguém é capaz de dormir e programar os seus sonhos, diz Ken Kasey. A única maneira de se conseguir isto é permanecendo acordado, escravizando o pensamento e as emoções.
Agindo desta maneira, nos sentiremos duplamente infelizes; porque não temos o prazer do sonho, e porque não vamos conseguir nada.
Assim como os sonhos existem situações na vida que não podemos controlar.
As feridas que recebemos ardem independente de nossa vontade. Mas, se procurarmos olhar a dor numa perspectiva mais ampla, vamos ver que ela não está sozinha em nossa vida; se mistura aos momentos de alegria, de aventura, de amor.
Então, dando ao sofrimento sua dimensão certa, sofreremos o que for necessário. Mas nunca sofreremos além do necessário.


De destruir

Postado por Paulo Coelho em 06 de Setembro de 2008 às 00:29

No auge do sucesso como romancista e autor teatral, Oscar Wilde entrou na Justiça contra um marquês que falava mal dele. O marquês conseguiu inverter o processo, e Wilde foi parar na prisão.
Ali escreveu seu mais belo poema, onde procura entender porque o homem termina sendo seu próprio carrasco.
Estes são alguns versos de “A balada do cárcere de reading”:
A gente destrói aquilo que mais amaem campo aberto, ou numa emboscada;alguns com a leveza do carinhooutros com a dureza da palavra;os covardes destroem com um beijoos valentes destroem com a espada.Mas a gente sempre destrói aquilo que mais ama

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