domingo, 1 de fevereiro de 2009

ACRE 1900




Fonte: FALCÃO, Emílio – “Álbum do Rio Acre”, pág. 156. 1906-1907. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.



EXPEDIÇOES DOS POETAS



Em março, três navios da Marinha brasileira prendem Galvez, e o Acre é devolvido à Bolívia. Inconformado, o governador do Amazonas, Ramalho Jr., financia a Expedição Floriano Peixoto, mais conhecida como Expedição dos Poetas, formada por professores, poetas, advogados, médicos e engenheiros, acompanhados de alguns soldados e canhões. Liderada por Rodrigo de Carvalho, ela tem como objetivo expulsar os bolivianos e retomar o Acre. Porém, sem experiência militar, o levante intelectual é derrotado em 29 de dezembro.


A Bolívia arrenda o Acre 1901


Seringal Sibéria. Fonte: FALCÃO, Emílio – “Álbum do Rio Acre”, pág. 149. 1906-1907. Acervo Digital: Memorial dos Autonomistas. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.


Em 11 de julho, é assinado o contrato de arrendamento do Acre entre a Bolívia e o Bolivian Syndicate, grupo de empresários da Inglaterra e dos EUA, representados pela empresa norte-americana Car Whitrig. Pelo prazo de 20 anos, a Bolívia permite que a companhia explore o Acre, com amplas liberdades territoriais, militares, alfandegárias e até fluviais.



ACRE 1899


Mapa geográfico da fronteira do Amazonas, em Questão de Limites, conforme os trabalhos do Dr. Taumaturgo de Azevedo, Chefe da Comissão. Fonte: A Província do Pará, 18-05-1899. Acervo Digital: Memorial dos Autonomistas. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.


D. José Paravicini, ministro plenipotenciário boliviano, funda a cidade de Puerto Alonso e abre os rios Acre, Purus e Iaco à navegação dos países amigos da Bolívia. Revoltados com as duras medidas alfandegárias, alguns brasileiros se unem contra a administração estrangeira. Paravicini dá por encerrada sua estada no Acre e deixa como delegado-substituo D. Moisés Santivañez.


Em maio, alguns seringalistas reunidos no seringal Bom Destino, de Joaquim Vítor, sob a liderança do jornalista cearense José de Carvalho, intimam Santivañez a deixar o Acre. Isto sem dar um tiro, fato inusitado se comparado à história de batalhas sangrentas que se seguiria. Tão inusitado que leva José de Carvalho a ser demitido e processado por crime de lesa pátria. Mas as autoridades bolivianas, em evidente inferioridade numérica e militar, partem para Manaus.


O espanhol Luiz Galvez, tido como representante dos revolucionários, denuncia em jornal a intenção dos bolivianos de arrendar o Acre a capitalistas europeus e norte-americanos, interessados na borracha. O governo brasileiro exige o fim dos conflitos e a devolução do território para a Bolívia, mas o governo amazonense apóia a ida de Galvez ao Acre. E ele vai, acompanhado de uma companhia de zarzuelas.


Sua intenção é solucionar o impasse na região. Num encontro com seringalistas, Galvez decide o futuro acreano sob o lema: “Já que nossa pátria não nos quer, criamos outra”. Assim nasce o Estado Independente do Acre. Em oito meses de governo, Galvez organiza a região pela primeira vez, com leis ambientais, escolas e saúde.




ACRE 1895



Manaus no início do século XX. Acervo Digital do Memorial dos Autonomistas. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.


Embora o Acre seja boliviano, o povoamento brasileiro é crescente na região. Com o mercado internacional consumindo cada vez mais borracha, a questão das fronteiras se torna um conflito entre os dois países. Os brasileiros produzem borracha em grandes seringais do território disputado, usando o produto para abastecer a Revolução Industrial. Os seringais acreanos já são responsáveis pela maior parte da produção de látex da Amazônia, além de oferecer a borracha de melhor qualidade.De tão valioso, o látex ganha o apelido de “ouro negro”. A vulcanização da borracha – processo inventado por Charles Goodyear em 1839 – permite a fabricação de pneus para automóveis e bicicletas, botas, capas impermeáveis, câmaras de ar, tapetes, forros, botes, salva-vidas, balões de gás, luvas. Tudo isso passa a ser feito com a borracha amazônica. Favorecidas pela aplicação cada vez maior da borracha na indústria automobilística, as elites paraense e amazonense começam a desfrutar um período de grande riqueza, ganhando visibilidade nacional e internacional. É a Belle Époque amazônica, que dura até 1910.

ACRE 1877


Nordestinos migram para o Acre


Seringueiro no centro Mutum (Guanabara). 1913. Fonte: MEDEIROS, Avelino Chaves – Exploração da Hevea. Acervo: Edunyra Assef. Acervo Digital do Memorial dos Autonomistas. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.


A grande seca do sertão nordestino faz com que milhares de trabalhadores migrem para o Acre. A variada utilização da borracha e suas conseqüentes possibilidades de lucro se tornam cada vez mais atraentes. A navegação a vapor também contribui para que o povoamento seja rápido e intenso. Em poucos anos, as margens dos altos rios acreanos são totalmente povoadas por brasileiros e estrangeiros de diversas origens, que vão abrindo imensos seringais em suas margens. Juntamente com as populações indígenas nativas, eles fazem do oeste da Amazônia um rico mosaico de etnias e culturas de todos os cantos do mundo.

ACRE 1867


O Acre é boliviano

Mapa dos limites do Brasil pelo Tratado de Ayacucho. Fonte: Revista Brasileira de Geografia, 1990, pág. 15. Acervo Digital do Memorial dos Autonomistas. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.


Assinado em março, o Tratado de Ayacucho abre a navegação no rio Amazonas para a Bolívia e estabelece oficialmente a fronteira entre aquele país e o Brasil. A linha divisória passa a ser uma paralela tirada da margem esquerda do rio Madeira, na latitude 10 graus e 20 minutos, até encontrar a nascente do rio Javari. Com isso, o Acre é tido como boliviano.

Acre 1860


Os rios acreanos nas rotas de exploração

Foto: Divulgação/TV Globo


Expedições exploratórias começam a ser realizadas pelos altos rios acreanos, região até então assinalada como “terras não descobertas” nos mapas da Bolívia. Através dessas expedições, conhece-se todo o imenso potencial econômico da área. Produzido por várias árvores, o látex se destaca. O caucho, a mangabeira, a maniçoba, a maçaranduba e a Hevea Brasiliensis recebem o nome genérico de seringueira, porque uma das grandes aplicações da borracha, a princípio, é a fabricação de seringas para uso médico.

ACRE 1736

A DESCOBERTA DA BORRACHA


Extração do látex no Parque Chico Mendes, Rio Branco-AC. 1998. Foto de Edson Caetano. Crédito: Acervo Digital do Memorial dos Autonomistas. Cortesia: Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour.



A borracha passa a ser conhecida dos europeus quando o militar e cientista francês Charles-Marie de La Condamine descreve sua aplicação pelos nativos da Amazônia. Eles já a utilizam para diversos fins, especialmente na fabricação de utensílios de uso cotidiano, como sapatos e garrafas, ou no revestimento de tecidos.

ACRE 1736


Inevitavelmente, o avanço dos seringueiros e seringalistas chegou ao Acre, território boliviano onde seringueiras de excelente qualidade se concentravam em enorme quantidade. Como a ocupação e a exploração daquelas terras foram feitas pelos brasileiros, o Acre acabou se tornando parte do Brasil, após muitos anos de luta, diplomacia e até mesmo arte. A história de como o Acre se tornou brasileiro explica os dois ciclos da borracha, o eterno interesse estrangeiro pela Amazônia, a contínua devastação da floresta, a dizimação criminosa dos povos indígenas, a morte de Chico Mendes e de tantos outros seringueiros e o fato de todos estes assuntos estarem em pauta até hoje, longe de serem encerrados.Esta é uma história que os livros ainda não contam em sua totalidade, mas que está na raiz de tantos temas que hoje são urgentes, como preservação ambiental, desenvolvimento sustentável, proteção das populações nativas, biopirataria e soberania nacional sobre a Amazônia. Para compreender melhor o presente, acompanhe-nos nesta viagem ao passado.

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