domingo, 9 de janeiro de 2011

Varadouro 21: próximo do fim, mas...

Varadouro 21: próximo do fim, mas...
Por Elson Martins
A três edições do fim, o jornal Varadouro ainda falava em recomeço, como se vê no pequeno editorial disfarçado em “Neste Número” que abre a segunda página da edição 21, de maio de 1981:
“Com o retorno em abril, depois de uma paralisação forçada de mais de seis meses, Varadouro – um Jornal das Selvas sofreu um processo de um deputado do PDS, deixou o governador irritado com a imprensa independente e foi perseguido no interior do Estado. Um agente federal de repente interessou-se pelo jornal e andou pela nossa redação bisbilhotando. Isso prova que Varadouro não perdeu sua vitalidade e retorna em tempo de retomar sua caminhada em defesa das classes oprimidas da sociedade. O fato de estarmos circulando com um novo número em maio mostra que estamos em condição de manter sua periodicidade. Para isso contamos com mais colaboradores e com clientes que sabem valorizar a sua publicidade. Mas, no fundo, estes também estão compreendendo os objetivos do jornal. Neste número damos destaque para a matéria sobre a fome na periferia de Rio Branco e para a crise da Universidade Federal do Acre. O reitor Aulio Gélio é velho conhecido nosso, pois de vez em quando mostra suas garras de reizinho absoluto. Só que agora seu reinado parece desmoronar. Também procuramos abrir novos espaços para os leitores. Nesta edição é a vez do homossexualismo. Vamos ver no que dá”.
O deputado do PDS que processou o jornal foi Altemir Passos, também radialista de prestígio na época. O governador era Joaquim Macedo, que ao ser nomeado em 1979 (não tinha eleições durante a ditadura militar), até contara com a simpatia do Varadouro, porque, orientado por seu padrinho político Geraldo Mesquita, se comprometera a apoiar a luta dos seringueiros e índios, e de travar o processo de pecuarização do Acre. O problema é que as pautas e a linguagem independente do jornal incomodavam, mesmo aos simpatizantes.
Quando parte da equipe do Varadouro assumiu o controle de A Gazeta do Acre, em 1981, o cabo de guerra com o governador se rompeu de vez: o diário sobreviveu a pão e água, enquanto o governador era recomendado por seu médico cardiologista a não ler a coluna Gazetinhas. Da equipe de governo, apenas seu cunhado e chefe do Gabinete Civil, Elias Mansour, mantinha-se cordial com os jornalistas do jornal que era uma extensão do Varadouro.
O sociólogo e professor universitário Pedro Vicente Costa Sobrinho produziu a tese de doutorado “Comunicação Alternativa e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental”, publicada em 2001 pela editora da Universidade Federal da Paraíba, na qual faz um alentado estudo do Varadouro. Na página 194 do livro o professor diz:
“Varadouro 21, ano IV, maio de 1981, publicou matéria com o título: “Greve na Universidade abala o autoritarismo”. O jornal fez uma excelente retrospectiva da trajetória do movimento estudantil universitário no Acre, desde 1977. O marco inicial foi a eleição da chapa Seringueira para o DCE; e, daí por diante, fatos importantes foram sendo enumerados até o momento da deflagração da greve. O movimento grevista listou uma pauta de reivindicações, mas o principal motivo foi a demissão sumária do professor Rômulo Garcia, presidente da associação de docentes. Um outro professor havia sido demitido por motivos ainda pouco claros. O movimento se alastrou por todos os cursos e ganhou as ruas com o objetivo de conquistar o apoio da sociedade. Varadouro anunciou o surgimento de uma nova força, e comentou: “Os estudantes entraram definitivamente na cena política do Acre. Entraram ‘por baixo’, isto é, colados ao movimento popular. A UFAC é sustentáculo e alimento da política, do empreguismo e do oportunismo da classe dominante. O movimento dos estudantes traz à luz do dia as forças comprometidas com esse esquema (...), e balança as estruturas desse poder no Acre”.
O jornal denuncia, também, de que lado estava o Governo do Estado, pois este mandara prender 21 seringueiros que haviam feito um empate contra o grupo Bordon, no seringal Nazaré.

Nenhum comentário:

Páginas