segunda-feira, 21 de março de 2011

O que será feito da Biblioteca da Floresta?

O que será feito da Biblioteca da Floresta? Imprimir E-mail
Escrito por Elson Martins *   
19-Mar-2011
Tem gente ficando apreensiva com o futuro dessa instituição. O problema é que o ex-coordenador geral, Edegard de Deus, que assumiu a Secretaria do Meio do Meio Ambiente em janeiro, ao sair levou consigo os técnicos mais experientes, e até agora não foi indicado seu substituto.

A informação, incompleta, que tenho sobre a mudança na BF é que será transformada no Instituto do Livro e da Leitura. Isso contraria a ideia anterior, de que seria institucionalizada como Departamento da Diversidade Socioambiental com a missão de trabalhar e difundir o conceito de florestania. O Instituto do Livro não parece ruim, mas deixa dúvida sobre o que será feito do belo acervo montado na Biblioteca a partir de 2007, tendo como tema central os movimentos socioambientais do Acre.

Não é pequeno o acervo. Ouso dizer que não tem no Estado outro igual em volume e qualidade. Em pouco mais de três anos de trabalho, funcionando a pão e água graças a insensibilidade de um sujeito que cuidava das finanças da Fundação Cultural Elias Mansour, a BF disponibilizou uma história completa das luta que fizeram o Acre avançar nas últimas três décadas.

Boa parte dessa história foi disponibilizada no site e em dois DVDs contendo mais de 30 mil arquivos em vídeo, áudio e textos digitalizados, e em meia dúzia de revistas e livros editados em parceria com entidades e pessoas insuspeitas. Resta ainda por finalizar muita coisa, como o projeto Memória dos Sábios da Floresta, com cerca de 100 entrevistas em áudio e vídeo que deveriam gerar também revistas e outras publicações.

O material que está guardado no computador-servidor da Biblioteca é imenso. Inclui, por exemplo, grande parte do acervo do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) e do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), dois baluartes das lutas socioambientais dos anos 1970/1980. Inclui também teses importantes da época, como a de doutorado da antropóloga Mary Allegretti, inédita, com mais de 800 paginas. E a coleção completa do jornal Varadouro, escaneada e digitalizada no formato PDF, podendo ser copiada e reproduzida, entre outros arquivos raros.

O problema é que o tal Servidor (computador) funciona precariamente, precisando de acompanhamento técnico constante, e o que se sabe é que a pessoa encarregada dessa função também saiu da Biblioteca. Ou seja, o Servidor teria ficado abandonado, exposto ao manuseio por algum curioso que não faça ideia de seu conteúdo?

A BF produziu ainda cinco grandes exposições temáticas ( Nossa Terra, Geoglifos, Chico Mendes, Índios Isolados e Zoneamento Econômico Ecológico,) montadas em imensos painéis que deveriam ser deslocados, posteriormente, para comunidades do interior, ou quem sabes transformados em cadernos impressos para facilitar a vida de milhares de alunos que pesquisam sobre as raízes acreanas. Dá calafrio pensar que isso tudo possa se perder numa mudança brusca.

Falta falar no charme que a BF criou com seu modo peculiar de funcionamento. Alí, os visitantes das grandes cidades ou da floresta ficam encantados com o que veem. Primeiro, um prédio bonito e bem decorado, onde tudo tem cheiro e cor de Acre. Depois, com o que não veem, mas sentem: um espirito, uma alma amazônica envolvendo a todos numa atmosfera lúdica, ao mesmo tempo particular e universal, revelando um valor humano que não deve, de maneira alguma, se perder.

* Jornalista acreano

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