domingo, 9 de janeiro de 2011

Varadouro 22: tempo de mudança

Varadouro 22: tempo de mudança
Elson Martins
Na seção “Neste Número” que abre a página 2, Varadouro sempre aproveitava para fazer um pequeno editorial. Nesta edição (n.22), que circulou em junho/julho de 1981, o jornal anuncia que muitas pessoas procuram sua redação “em busca de um espaço para discutir e expressar suas dúvidas, perspectivas e anseios”. E professa que “Varadouro pretende ser uma escola. Não uma escola onde os doutores sabidos estão de um lado, e os ignorantes de outro. Mas uma escola onde todos ensinam e aprendem, onde se possa trocar as experiências, enriquecer individualmente e desta forma possibilitar o fortalecimento das nossas lutas. Se ainda estamos longe de chegar lá, grande é a vontade para reunir, de fato, o maior número possível de pessoas que questionem a si e ao mundo em sua volta, bem como para incorporar todas as causas justas”
“Neste número – prossegue o texto – mais uma vez trazemos os temas aos quais nossos leitores já se habituaram. Ou seja, é o mesmo Varadouro de sempre, combativo, não estático, evoluindo junto com as lutas de várias parcelas da população”.
O que o pequeno editorial não diz é que o jornal se aproximava do fim. Com mais duas edições (23 e 24) fecharia as portas encerrando uma vida curta, mas corajosa e muito útil à sociedade acreana, sobretudo como instrumento de defesa dos valores históricos, ambientais, culturais, sociais, econômicos e políticos da região.
Na edição anterior o jornal já sinalizava com dificuldades intransponíveis para se manter. A ajuda em dinheiro da Prelazia do Acre e Purus, prevista para garantir apenas seis edições, esgotara nos dois primeiros anos, e já haviam se passado quatro com a idéia bíblica de multiplicar o pão. O expediente da edição 22 transparecia o esforço supremo: tinha gente nova arregaçando as mangas, a começar pela editoria. Na verdade, uma discussão interna e democrática havia determinado mudança: Elson Martins e Silvio Martinello se afastariam da editoria (ficariam na reportagem) dando lugar a Romerito Valle de Aquino, Marco Antônio Mendes e Antônio Alves Neto.
Os dois nomes continuavam aparecendo na editoria, mas era só pra constar. A nova ordem era dada pelo pessoal mais jovem relacionado na Redação: Antônio Alves, Antônio Manoel, Armando Soares, Fátima Almeida, Fernando La Roque, Francis Mary, Saulo Petean, Roberto Medeiros (Branco), etc.
O pequeno editorial esclarece: “Procuramos nos transformar para acompanhar a transformação da sociedade. Por essa razão é que não estamos apenas denunciando, mas apresentando também algumas reportagens estreitamente ligadas às lutas de diversos movimentos. É o caso dos estudantes, dos filiados aos sindicatos rurais do Acre, dos artistas, dos que procuram outras formas para sobreviver”.
Por fim, mais explicação e justificativas: “Talvez ainda nos falte o humor. Há quem diga que devemos ser sérios, mas não pesados. Enquanto não suprimos esta falha, procuramos compensar mexendo no visual e transmitindo um pouco de emoção: como a do fotógrafo da última página, revelando de forma poética uma realidade terrivelmente cruel”.
A edição que a partir de hoje estará disponível em PDF a todos os internautas mantém a qualidade que fez a fama do Varadouro, em matérias como: “A grande festa do PT no Acre”, “A Constituinte pede passagem”, “Acre: paraíso dos enlatados”, “Estão envenenando o Acre,”, “Akiri: tempo de mudança”, “Seringueiros apontam rumo para o sindicato”, “O exemplo da Colônia Cinco Mil”, entre outras.

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