domingo, 9 de janeiro de 2011

Varadouro 13: rasteira e choro

Varadouro 13: rasteira e choro
Elson Martins
Estava findando o ano de 1978. Nas eleições de novembro, a ARENA, partido de sustentação política do regime militar pressionou para que o Tribunal Regional fizesse recontagem de votos garantindo a eleição do xapuriense Jorge Kalume para a única vaga do Senado em disputa. O deputado Alberto Zaire, do MDB, também xapuriense que tinha sido anunciado como eleito, desmoronou após a recontagem de uma urna da 3ª Zona Eleitoral de Sena Madureira.
O Varadouro colocou maliciosa manchete na capa da edição de dezembro: “MDB ganha, mas não leva!” – ilustrada com uma foto (de minha autoria) em que Zaire aparece fiscalizando a apuração em Rio Branco. E na página 3, destinada aos temas políticos, publicou a dança dos números com os passos desajeitados de importantes membros do Judiciário.
O estridente desembargador e corregedor eleitoral Jorge Araken Faria da Silva (hoje aposentado e calmo), numa sessão extraordinária do Tribunal Regional Eleitoral “tascou” com seu vozeirão: “Os mapas do município (Sena Madureira) são eivados de erros”, e  sugeriu a abertura de inquérito para responsabilizar “criminal e administrativamente” a Junta Apuradora presidida pela juíza (hoje desembargadora) Eva Evangelista de Souza.
O Varadouro 13 prossegue: “O fato é que surgiram um, dois, três, quatro, cinco resultados da eleição para o Senado, chegando-se ao cúmulo de não coincidirem no final, na conferência dos mapas e boletins os totais de votantes para o Senado, Câmara Federal e Assembléia Legislativa, ou seja, não apareceram 200 votos. Uma quantia significativa, considerando que a pretensa vitória da ARENA foi de apenas 57 votos. Com razão, o MDB anunciou que iria pedir a anulação das eleições no Acre porque, segundo Alberto Zaire, ‘o TRE não tem mais condições de oferecer resultados verdadeiros”.
Eva Evangelista de Souza caiu em prantos. Mas, sua dor não chegava aos pés da dor dos perseguidos pelo governo militar e dos que viam desmoronar, mais uma vez, as expectativas de se garantir a democracia e a lisura eleitoral. Só para lembrar: em 1978, os governadores ainda eram nomeados pelo Presidente da República, um terço dos senadores eram “biônicos” (nomeados) e apenas dois partidos (Arena e MDB) disputavam eleições, digamos, “eivadas de erros”.
Mas o pessoal do Varadouro tinha esperanças e chamou atenção para um fato que poderia ter passado despercebido para a história: um terceiro candidato ao Senado, o ex-governador Francisco Wanderley Dantas, tivera votação pífia. E o jornal registrou:
“No meio de tantas dúvidas e perplexidades que envolveram as últimas eleições, uma coisa é certa: um dos grandes derrotados foi o ex-governador Francisco Wanderley Dantas que abriu as ‘porteiras do Acre’ para os compradores de terras”.
E lá está nas páginas centrais da edição, um exemplo do que fazia o pessoal do Varadouro manter o otimismo: 63 seringueiros do alto Iaco, representando mil famílias que viviam tradicionalmente nos seringais Guanabara, Icuriã e São Francisco enfrentaram os 126 proprietários paranaenses da Coapai (Cooperativa Agropecuária do Alto Iaco) que tiveram de repensar seu projeto e acabaram desistindo do mesmo. Isso depois de um aplaudido encontro na Universidade Federal do Acre em que os empresários apresentaram a proposta  para as autoridades, a classe política e a mídia, entre eles os fraudadores de eleições.
Bom proveito da edição n. 13 do Varadouro, disponibilizada em PDF neste site e podendo ser lida e copiada a gosto.

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