Varadouro 13: rasteira e choro
Elson Martins
Estava findando o ano de 1978. Nas eleições de novembro, a ARENA, partido de sustentação política do regime militar pressionou para que o Tribunal Regional fizesse recontagem de votos garantindo a eleição do xapuriense Jorge Kalume para a única vaga do Senado em disputa. O deputado Alberto Zaire, do MDB, também xapuriense que tinha sido anunciado como eleito, desmoronou após a recontagem de uma urna da 3ª Zona Eleitoral de Sena Madureira.
O Varadouro colocou maliciosa manchete na capa da edição de dezembro: “MDB ganha, mas não leva!” – ilustrada com uma foto (de minha autoria) em que Zaire aparece fiscalizando a apuração em Rio Branco. E na página 3, destinada aos temas políticos, publicou a dança dos números com os passos desajeitados de importantes membros do Judiciário.
O estridente desembargador e corregedor eleitoral Jorge Araken Faria da Silva (hoje aposentado e calmo), numa sessão extraordinária do Tribunal Regional Eleitoral “tascou” com seu vozeirão: “Os mapas do município (Sena Madureira) são eivados de erros”, e sugeriu a abertura de inquérito para responsabilizar “criminal e administrativamente” a Junta Apuradora presidida pela juíza (hoje desembargadora) Eva Evangelista de Souza.
O Varadouro 13 prossegue: “O fato é que surgiram um, dois, três, quatro, cinco resultados da eleição para o Senado, chegando-se ao cúmulo de não coincidirem no final, na conferência dos mapas e boletins os totais de votantes para o Senado, Câmara Federal e Assembléia Legislativa, ou seja, não apareceram 200 votos. Uma quantia significativa, considerando que a pretensa vitória da ARENA foi de apenas 57 votos. Com razão, o MDB anunciou que iria pedir a anulação das eleições no Acre porque, segundo Alberto Zaire, ‘o TRE não tem mais condições de oferecer resultados verdadeiros”.
Eva Evangelista de Souza caiu em prantos. Mas , sua dor não chegava aos pés da dor dos perseguidos pelo governo militar e dos que viam desmoronar, mais uma vez, as expectativas de se garantir a democracia e a lisura eleitoral. Só para lembrar: em 1978, os governadores ainda eram nomeados pelo Presidente da República, um terço dos senadores eram “biônicos” (nomeados) e apenas dois partidos (Arena e MDB) disputavam eleições, digamos, “eivadas de erros”.
Mas o pessoal do Varadouro tinha esperanças e chamou atenção para um fato que poderia ter passado despercebido para a história: um terceiro candidato ao Senado, o ex-governador Francisco Wanderley Dantas, tivera votação pífia. E o jornal registrou:
“No meio de tantas dúvidas e perplexidades que envolveram as últimas eleições, uma coisa é certa: um dos grandes derrotados foi o ex-governador Francisco Wanderley Dantas que abriu as ‘porteiras do Acre’ para os compradores de terras”.
E lá está nas páginas centrais da edição, um exemplo do que fazia o pessoal do Varadouro manter o otimismo: 63 seringueiros do alto Iaco, representando mil famílias que viviam tradicionalmente nos seringais Guanabara, Icuriã e São Francisco enfrentaram os 126 proprietários paranaenses da Coapai (Cooperativa Agropecuária do Alto Iaco) que tiveram de repensar seu projeto e acabaram desistindo do mesmo. Isso depois de um aplaudido encontro na Universidade Federal do Acre em que os empresários apresentaram a proposta para as autoridades, a classe política e a mídia, entre eles os fraudadores de eleições.
Bom proveito da edição n. 13 do Varadouro, disponibilizada em PDF neste site e podendo ser lida e copiada a gosto.
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