segunda-feira, 21 de março de 2011

O que será feito da Biblioteca da Floresta?

O que será feito da Biblioteca da Floresta? Imprimir E-mail
Escrito por Elson Martins *   
19-Mar-2011
Tem gente ficando apreensiva com o futuro dessa instituição. O problema é que o ex-coordenador geral, Edegard de Deus, que assumiu a Secretaria do Meio do Meio Ambiente em janeiro, ao sair levou consigo os técnicos mais experientes, e até agora não foi indicado seu substituto.

A informação, incompleta, que tenho sobre a mudança na BF é que será transformada no Instituto do Livro e da Leitura. Isso contraria a ideia anterior, de que seria institucionalizada como Departamento da Diversidade Socioambiental com a missão de trabalhar e difundir o conceito de florestania. O Instituto do Livro não parece ruim, mas deixa dúvida sobre o que será feito do belo acervo montado na Biblioteca a partir de 2007, tendo como tema central os movimentos socioambientais do Acre.

Não é pequeno o acervo. Ouso dizer que não tem no Estado outro igual em volume e qualidade. Em pouco mais de três anos de trabalho, funcionando a pão e água graças a insensibilidade de um sujeito que cuidava das finanças da Fundação Cultural Elias Mansour, a BF disponibilizou uma história completa das luta que fizeram o Acre avançar nas últimas três décadas.

Boa parte dessa história foi disponibilizada no site e em dois DVDs contendo mais de 30 mil arquivos em vídeo, áudio e textos digitalizados, e em meia dúzia de revistas e livros editados em parceria com entidades e pessoas insuspeitas. Resta ainda por finalizar muita coisa, como o projeto Memória dos Sábios da Floresta, com cerca de 100 entrevistas em áudio e vídeo que deveriam gerar também revistas e outras publicações.

O material que está guardado no computador-servidor da Biblioteca é imenso. Inclui, por exemplo, grande parte do acervo do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) e do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), dois baluartes das lutas socioambientais dos anos 1970/1980. Inclui também teses importantes da época, como a de doutorado da antropóloga Mary Allegretti, inédita, com mais de 800 paginas. E a coleção completa do jornal Varadouro, escaneada e digitalizada no formato PDF, podendo ser copiada e reproduzida, entre outros arquivos raros.

O problema é que o tal Servidor (computador) funciona precariamente, precisando de acompanhamento técnico constante, e o que se sabe é que a pessoa encarregada dessa função também saiu da Biblioteca. Ou seja, o Servidor teria ficado abandonado, exposto ao manuseio por algum curioso que não faça ideia de seu conteúdo?

A BF produziu ainda cinco grandes exposições temáticas ( Nossa Terra, Geoglifos, Chico Mendes, Índios Isolados e Zoneamento Econômico Ecológico,) montadas em imensos painéis que deveriam ser deslocados, posteriormente, para comunidades do interior, ou quem sabes transformados em cadernos impressos para facilitar a vida de milhares de alunos que pesquisam sobre as raízes acreanas. Dá calafrio pensar que isso tudo possa se perder numa mudança brusca.

Falta falar no charme que a BF criou com seu modo peculiar de funcionamento. Alí, os visitantes das grandes cidades ou da floresta ficam encantados com o que veem. Primeiro, um prédio bonito e bem decorado, onde tudo tem cheiro e cor de Acre. Depois, com o que não veem, mas sentem: um espirito, uma alma amazônica envolvendo a todos numa atmosfera lúdica, ao mesmo tempo particular e universal, revelando um valor humano que não deve, de maneira alguma, se perder.

* Jornalista acreano

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Conhecendo parque nacional da serra do divisor

Conhecendo parque nacional da serra do divisor







Paulo Mário Moll

(Introdução)

Flaviana Coimbra

(Desenvolvimento)







O parque nacional da serra o divisor está localizado no estado do Acre abrangendo os municípios de cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Porto Walter, Marechal Taumaturgo e Mâncio Lima onde se encontra sua maior parte. Foi criado em 1989 e a maior parte de seu território esta preservado. A principal via de acesso é pelo Rio Môa.

A Serra do Divisor é composta por inúmeras atrações naturais, como montanhas, Cachoeira do ar condicionado; cachoeira Formosa, essa tem três quedas d’água é simplesmente linda e uma das mais famosas; buraco central que foi aberto pela Petrobras durante os trabalhos de prospecção do Petróleo na década de 30.O buraco central tem 1 metro de diâmetro que jorra água formando assim uma bela cachoeira que deságua no rio Moa. Também tem a trilha do mirante de onde se pode observar a divisa do Acre e o Peru. É considerado o 5° maior parque do Brasil em biodiversidade, muito rico em fauna e flora, abriga uma reserva indígena os nukinis

Portanto caro leitor ,é com grande satisfação que relato um pouco de minha aventura no PNSD.A visita foi feita juntamente com meus colegas do curso Técnico em Ecoturismo ,na qual fazíamos pelo o instituto Dom Moacyr, sobre a responsabilidade da escola Roberval Cardoso o antigo colégio agrícola

A viajem durou 15 dias, pois fomos de ônibus pela Br 364,e como é de conhecimento de todos a estrada está em processo de pavimentação, o que dificultou bastante, prolongando assim o tempo de chegada a Cruzeiro do Sul. Saímos de Rio Branco as 4 da manhã e chegamos a Tarauacá a noite onde fomos recebido pelo colégio de freiras na qual passávamos anote.No dia seguinte fomos para a aldeia indígena poynáua em Mâncio Lima, onde acampamos e passamos a noite.

No dia seguinte ao meio dia fomos em direção a Serra, onde fomos divididos em 7 voadeiras, é uma experiência inesquecível viajar sobre o rio moa, pois desfrutei de uma linda visão natural, acampamos na praia, e passamos mais uma noite, foi muito bom, apesar da chuva .Foi uma viajem cansativa, com um sol escaldante. Fomos conhecer o posto fiscal, onde o exército faz o trabalho de fiscalização de quem entra no parque, do trafico de drogas vindas do peru e principalmente da exploração madeireira ilegal e de animais feita por peruanos.

Mas a grande emoção é na chegada ao pé da serra, só vendo de perto pra saber, é realmente lindo, está ai o grande motivo de receber diversos pesquisadores, estudiosos de outros países que ficam encantados com tanta beleza.

Atualmente já se descobriram outras cachoeiras, mas a que conheci foi as que citei acima,a cachoeira do ar condicionado fica bem dentro da Mata, e tem uma água bem gelada, por isso recebe esse nome a queda d’água faz uma barulho intenso,bastante pesada a queda d’água.a trilha do mirante dura aproximadamente de 30 a 40 minutos subindo, prestem atenção é subindo literalmente ,não é todo mundo que agüenta subir, principalmente porque é direto dentro da mata só segurando nos galhos de arvores, mas a recompensa é a grande visão que se tem lá do alto da Serra, onde se pode ver o rio Moa bem pequenino com suas curvas, além de ver o marco Divisor, o Peru e Brasil.

Para conhecer a cachoeira Formosa tive que caminhar aproximadamente 5 km, direto dentro da mata fechada, só com pequenos caminhos feito com o dia-dia dos moradores da serra, dizem que para quem anda rápido é 4 horas .Acreditem essa foi a caminhada mais longa que já fiz, as poucas coisas que levávamos já não agüentávamos mas ,pois cada passo pesava mais,1hora foi só andando sobre as pedras e a água gelada ,debaixo de chuva ,lá não para é chuva direto,a cada passo a frente só víamos grandes paredões de arvores nos rodeando ,o céu ficava bem pequeninho.



ARTIGO..Século XIX ao XX, uma época marcante

Século XIX ao XX, uma época marcante



Flaviana Coimbra*

Paulo Mário Moll*





Resumo

Este artigo tem por finalidade abordar algumas questões referente a transição do seculo XX ao XIX,como era a mentalidade de uma época, em que os Estados Unidos passava pela guerra de secessão , na qual deixou profundos ressentimentos entre os americanos.

Abstract

This article aims to address some issues concerning the transition from the nineteenth to the twentieth century, as was the mentality of an era in which the United States passed the war of secession, which left deep resentment among Americans.

Com origem na atuação de veteranos confederados sulistas desde 1865, a fundação da Ku-Klux-Klan, ocorre dois anos depois em Neshville, com o objetivo de impedir a integração dos negros, como homens livres com direitos adquiridos e garantidos por lei após a abolição da escravidão.

Como sociedade secreta, racista e terrorista, a Ku-Klux-Klan”, era presidida por um Grande Sacerdote, abaixo do qual existia uma rígida hierarquia de cargos dotados de nomes sinistros como "grandes ciclopes" e "grandes titãs". O traço característico de seus membros era o uso de capuzes cônicos e longos mantos brancos, destinados a impedir o reconhecimento de quem os usavam.

O Klan tinha princípio racial, nacionalistas, eram compostos por brancos, ricos e protestantes visava um modelo econômico, de valores importantes de manutençao para a familia, preservavam a moral e eram contras negros, estrageiros, a igreja católica,judeus, e contras os movimento de mulheres que estava despertando, adquirindo mais liberdade e independência.

Não restam dúvidas, tendo em vista alguns acontecimentos, que a década de 20 marcou profundamente o modo de vida dos americanos. Os fatos marcantes se dão em todos os âmbitos sociais. Velhos costumes e culturas conservadoras caíram por terra. Isso tudo se desencadeou junto a maior crise da economia americana vivida no final da década.

A sociedade mudou, as mulheres saíram daquele modo de vida tradicional de ser apenas dona de casa, e passaram a fazer as mesmas coisas que os homens, começaram a sair, beber e a fumar. Houve vários movimentos, eram os chamados movimentos das mulheres para fora de casa, queriam seus diretos de trabalhista e políticos, direito ao voto. No entanto elas começam a se unir, e em 1920 conseguiram o direito de votar, é interessante salientar que nem todas as mulheres da época aderem aos movimentos, ao contrário, elas repudiavam, achava que aquilo era contra a moral da sociedade e de uma mulher direita, eram aquele tipo de mulher submissa ao marido, e achava certo, também muitas tinha medo de seus maridos.

Os negros mesmo que com a abolição da escravidão ainda sofriam preconceitos, portanto passavam a expor seus costumes, suas culturas principalmente com a propagação de suas musicas, seus ritmos, como o Jazz. Além de serem comuns as agressões físicas, os linchamentos e os homicídios, os negros estavam também sujeitos as humilhações cotidianas. Cidadãos negros, por exemplo, que tivessem até um oitavo de sangue africano, só podiam viajar nos vagões de trem especialmente destinados a pessoas “de sua raça”.

A expressão usada pelo o autor “Renascença negra” traduz exatamente como a supremacia branca caia por terra. Estudos comprovaram que o ambiente, e a sociedade desempenhavam o papel principal em aptidões de grupos étnicos. Bem mais que hereditariedade.

Outro acontecimento importante dos americanos também na década de 20 foi o desenvolvimento tecnológico, em parceria com um marketing tentador e estimulante levando a população a consumir, com forte investimento em publicidade.

As campanhas incentivadoras ao consumo dispunham de linhas de créditos e que levam os consumidores a comprar cada vez mais. Grande procura tornou-se maior que a oferta e com o tempo isso desencadeou uma crise, não se podia produzir mais o bastante, sendo assim não se satisfazia a procura. O governo tentou naquela década varias tentativas de solucionar a crise. Já não se podia comer, não se tinha o que vestir, os brancos tiveram falhas graves em seus sistemas, tiveram que organizar planos de crédito para a aquisição da casa própria com prestações, mensais e juros em longo prazo.

Os projetos do presidente Hoover não deram certo. A crise acarretou falência de brancos, suicídios, a taxa de natalidade e de casamento caiu. Os americanos caíram na miséria total, o que levou a grande maioria se mudar para o campo. Lá se tinha pelo o menos o que comer.

No entanto o século XX marcaria os EUA pelo maior poder econômico do mundo. Sua produção industrial era enorme e ganhava das grandes potencias européias. Grandes projetos imperialistas ganhavam força e o objetivo principal era tomar o controle de novos territórios no Caribe, América Central e Oceano Pacífico.

Esse sucesso industrial e comercial tinha um preço a ser pago, e quem pagava por isso era a classe trabalhadora. A exploração dessa classe era grande; carga horária excessivas, baixos salários, e péssimas condições de trabalho se tomavam comum, e a população indígena, latino-americanos e imigrantes era injustiçada.

Nas décadas seguintes a economia agrícola e artesanal foi substituída pelo mundo industrial do carvão, aço e vapor. A ampla disponibilidade de matéria prima e mão-de-obra barata transformavam os EUA na maior nação industrial do século XX.Os avanços eram visíveis e citáveis: extensão das ferrovias, vastas áreas agrícolas comerciais foram criadas para os produtos industrializados, o avanço da mineração, do carvão e do aço era espantoso.

Wall Street em Nova York passou a ser sede dos grandes bancos, avanços tecnológicos como eletricidade, aço, motores a vapor e os automóveis revolucionavam a produção industrial e o transporte. Esta grande riqueza dos chamados “Capitães industriais “não foi compartilhada com os trabalhadores” Os salários eram baixos, benefícios não existia a jornada de trabalho era de 10 horas por dia e seis dias na semana, doenças e acidentes no trabalho eram comum”. Empresas empregavam mulheres e crianças porque os salários eram menores que os pagos aos homens. O movimento sindical sofreu limitações, a palavra ‘raça’ significava diferenças biológicas e culturais entre os povos tidos como superiores; geralmente brancos originários da Europa ocidental e do Norte.

Alguns grupos étnicos como judeus e alemães progrediram economicamente.Emprego,educação,lazer e praticas sexuais mais livres adotadas por jovens mulheres eram motivo de conflitos familiares. Em 1890 os negros que moravam no Sul do País perderam o direito ao voto. Negros e brancos não podiam mais se misturar, havia, no entanto a segregação, onde tudo era separado, havia escolas, serviços públicos, e lojas tudo separado entre negros e brancos.

Em 1900, dez milhões de negros nos EUA que moravam nos estados sulistas trabalhavam nas regiões algodoeiros. A maioria era constituída por arrendatários e latifundiários brancos pagando aluguel das terras em dinheiro ou com parte de com produção.

Enfim, percebe-se que aconteceram diversas mudanças, no entanto ,também é interessante salientar que mudou ,aconteceram transformações, porém nossa sociedade contém muitas heranças desta década, como o preconceito racial, preconceito contra estrangeiro como, por exemplo, como os bolivianos, e há uma grande dominação do capitalismo como a publicidade e o marketing, que até hoje influência e muito a vida de todos.

























Referência Bibliográfica:


LEUCHTENBURG, William E. (org.), O Século Inacabado: A América desde 1900, v.1 – Zahar Editores, Rio de Janeiro.


PARDY, Sean, História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008.O século Americano- A Era Progressista 1900-1920




domingo, 9 de janeiro de 2011

varadouro 1º


Eles fizeram o que se poderia chamar de uma revolução. Na linguagem, no comportamento político, nos relacionamentos sociais, em tudo eles buscaram o avesso do que estava estabelecido. Na chegada do “progresso” defenderam os índios. No auge da pecuária gritaram em favor da floresta. No crescimento da urbanização falaram de seringueiros. No frenesi do capitalismo deram valor aos pobres. Em meio aos letrados assumiram a fala dos analfabetos. Fizeram, assim, um dos mais expressivos jornais da chamada imprensa alternativa do Brasil, o histórico Varadouro. Vinte anos depois, “o Acre” os reúne para lembrar e analisar o que passou. E para, à luz do passado, fazer o que sempre souberam fazer melhor: projetar o futuro.

varadouro 2º

Os velhos jornais no Varadouro
Elson Martins
A impressão das 24 edições do Varadouro foi sempre um parto muito difícil. O primeiro número, que circulou em maio de 1977, para ser rodado teve que recorrer à gráfica do Estado, o antigo Serda, e manter longa conversa de convencimento junto ao diretor José Paz, um pernambucano esclarecido que precisou consultar o então governador Geraldo Mesquita para nos atender. A autorização saiu sob recomendações e ameaça de suspensão.
Aparentemente, nada impediria que o jornal tivesse vida longa nas oficinas do governo, até porque o dono da gráfica (Mesquita), por seu passado e formação ideológica era tido como aliado. Mas o recado desanimador não demorou: “Não vai dar pra continuar tirando o jornal aqui” – desculpou-se José Paz, e até hoje não sabemos por que, já que a edição saiu bem comportada, até..
O fato é que começamos contabilizando prejuízo: o acerto com o Serda incluiu a compra de 300 quilos de chumbo para linotipo no Rio de Janeiro, pagando frete aéreo caríssimo, além das despesas para o serviço extra do linotipista Nilder (já falecido), do paginador e auxiliares de tipografia. Sem contar as resmas de papel para 5 mil exemplares de 20 páginas, tamanho tablóide, e o lanche da rapaziada que teve de madrugar alguns dias até o jornal ficar pronto.
Pelo editorial do número 1, entretanto, dá para perceber que o ânimo da equipe do Varadouro suportaria contrariedades: “Varadouro é um dever de consciência de quem acredita no papel do jornalista”, ao que foi acrescentado: “é um desafio, até certo ponto, incômodo; sabemos que seremos amados e mal-amados, mas ainda achamos que vale a pena assumi-lo, porque acreditamos que o homem acreano e o da Amazônia merecem muito mais que simplesmente o berro do boi”.
E por aí o número 2, que deveria circular em junho, somente saiu na primeira quinzena de julho com atraso de um mês. A explicação está na longa negociação que precisou ser feita do outro lado da Rua João Donato, onde funcionava a gráfica do jornal O Rio Branco de propriedade de Luiz Tourinho, empresário de Porto Velho. O editor José Chalub Leite, aberto às novas idéias, deu uma mãozinha para que seu patrão acolhesse o novo e inquieto nanico da imprensa, mas não evitou um novo impedimento. A via crucis do Varadouro estava apenas começando.
Com a reportagem de capa “O Acre nos jornais velhos – Uma história bem contada”, a segunda edição penetrou mais fundo na alma acreana. A matéria resultou de uma mexida nas prateleiras empoeiradas da Biblioteca Pública e de conversas com pioneiros como Foch Jardim e Zé Leite, surpreendendo ao mostrar como o Estado foi pródigo em jornais no começo do século. Circularam nos tempos felizes da borracha mais de 50 títulos editados sabe-se lá como, mas mas que faziam registro fiel dos acontecimentos da época: desde a elegância da “mademoiselle” Raimunda da Silva ao preço do látex no mercado internacional e as intrigas locais.
Durante a produção das duas primeiras edições e apesar dos problemas que teve de superar, a equipe do “Vara” não parou de crescer. Na primeira reunião de pauta na redação - digo na minha residência na Rua Cel. João Donato 291- participaram três, quatro gatos pingados. Mas para a matéria sobre os jornais velhos já contamos com um mutirão de “repórteres” que entrou em campo procurando fazer o melhor sobre o tema escolhido.
Coloquei aspas na palavra “repórteres” propositadamente, para explicar que, no começo, com experiência em jornalismo existia apenas eu, o Silvio Martinello e o Antônio Marmo, este último um excepcional jornalista que sempre estranhou o clima de nossa redação. Em compensação, o time que foi às ruas saber dos problemas e fazer notícia, eram militantes de primeira: Célia Pedrina, Luis Carvalho, Rosa Maria Carcelen e Terri Aquino (Txai) para começar. Contamos também com o fotógrafo Adalberto Dantas, que mantinha um laboratório no SESC, o imprescindível Abrahim Farhat Neto (nosso Lhe), e o Alberto Furtado, promovido de proprietário da banca de revistas a vendedor de jornal no “pregão” (Olha o Varadouro!).
Daí para frente entrou mais gente, conseguimos uma redação nos fundos do quintal do seu Elizeu - guarda territorial aposentado e pai da Eurenice, militante do DCE da Universidade Federal do Acre - e o Varadouro se tornou algo mais que um jornal: funcionou também como delegacia de policia, posto de assistência social, sede comunitária de lavadeiras, domésticas e estivadores, quartel general do Txai Terri e dos índios Kaxinawá do velho cacique Alfredo Sueiro, dos confins do rio Jordão.
Repercussão no País
Na segunda página da edição 2 dá pra ver a repercussão que o jornal causou. Chegaram à redação cartas de São Paulo, Brasília e, claro, Xapuri, de onde o saudoso Chico Mendes mandava sua força e pedia mais jornais. As cartas continuariam chegando aos montes, de diferentes lugares, e isso tinha uma explicação: a imprensa alternativa funcionava como uma rede distribuindo no país os nanicos e, ainda por cima, trocando matérias e tecendo rasgados elogios. Era uma rede solidária contra o regime militar no Brasil.
Na página 3, o jornal publicou uma entrevista com o prefeito Fernando Inácio recém nomeado por Geraldo Mesquita. Eleição era coisa rara naqueles tempos, todos os prefeitos do Acre vinham nomeados de Brasília depois de terem os nomes submetidos ao crivo dos generais. No caso do Fernandinho, nem precisava, o homem parecia um sacristão saindo da missa; mas o que ele fez bem durante alguns anos foi torrar a paciência dos riobranquinos.
A entrevista com o prefeito-interventor foi trabalhada pelo Antônio Marmo, que veio de São Paulo junto com o Silvio e deu enorme contribuição para a imprensa acreana sem entender porque o pessoal continuava fazendo e gostando do jornalismo tão arriscado que se produzia aqui. Ele acabou cunhando a expressão “aqui é aqui” para explicar o inexplicável. Com estilo primoroso Marmo fez com que o entrevistado parecesse um político disposto a fazer alguma coisa pela cidade.
Depois de passar pelo “Siribolo do Papôco”, indicando que o jornal tinha interesse nas histórias dos bairros, os antigos e os novos, e de destacar o pouco caso que o poder público fazia da saúde, o Vara 2 chegou à página 7 com um assunto de comportamento: “Quem é o pai da Juliana?”. Tratava-se de uma queixa contra a intromissão da televisão nas pacatas conversas entre vizinhos, nas varandas e calçadas. As famílias se trancavam à noite para receber sua dose diária de veneno global cedendo ao modismo, e perdendo as histórias e amizades que marcaram a sociedade acreana.
O perigo era iminente. As famílias chegaram à cidade expulsas do seringal e o que lhes ofereciam funcionava como um canto de sereia atraindo para o buraco da miséria, da prostituição e da violência. A TV ajudava (e ajuda) a desagregar famílias, pulverizar corações e mentes e a impor nova e perversa cultura urbana.
O Varadouro farejava essas coisas e se posicionava contra, até com algum radicalismo, ganhando cada vez mais adeptos. Os que não tinham voz para reclamar da dura vida cotidiana encontravam naquele pequeno bando de malucos coragem para denunciar os abusos e cobrar providência das autoridades. Presos maltratados pela polícia, estivadores explorados no porto, os prostíbulos, a sonegação de impostos e malandragem generalizada e irresponsável no serviço público eram assuntos preferenciais no jornal, que estava apenas começando a fustigar a onça.
O Acre vivia a época do berro do boi e do que este representava de ruim para o estado, ou seja: trapaças, escrituras públicas de imóveis forjadas em cartório, prisões ilegais, expropriação de seringueiros e índios, trabalho escravo, prostituição das meninas egressas dos seringais enquanto “os novos donos do Acre” se aboletavam nas calçadas do antigo Hotel Chuí, no final da tarde, paqueravam as meninas e bebiam do melhor uísque com seus jagunços que espalhavam o terror na área rural. Tudo isso com a conivência de advogados, juízes, políticos influentes e autoridades de segurança.
Muita gente do outro lado (jornalistas, estudantes, religiosos, ativistas políticos, funcionários públicos conscientes), entretanto, defendia que era preciso fazer alguma coisa contra a bonivização do Acre. Só não sabia por onde começar. O Varadouro mostrou o caminho peitando ao mesmo tempo os fazendeiros e o poder econômico, sem falar nos militares. Tudo com muita ousadia e identidade sincera com o Acre e sua gente.

Varadouro 3º

Varadouro mostra a cara do conflito
Por Elson Martins
O Varadouro número 3 que a Biblioteca da Floresta está disponibilizando em seu site, circulou em agosto de 1977, após enfrentar novas dificuldades com impressão. O empresário Luiz Tourinho, dono do jornal O Rio Branco, concordou em imprimir a edição número 2, mas fechou a cara e a gráfica quando viu o conteúdo da edição. Foi necessário acionar a rede nacional e solidária dos nanicos que nos indicou as oficinas da PAT – Publicações e Assistências Técnicas Ltda de São Paulo como solução. Deu certo: impresso em off-set, o jornal ficou mais limpo e bonito, sem custos adicionais, mesmo incluindo o frete daquela lonjura.
A manchete de capa tratou do tema que virou marca registrada do jornal: conflitos de terra. A matéria “Terra, a briga pra ser dono” ocupou quatro páginas centrais e a edição de 5 mil exemplares esgotou logo. Um detalhe: o logotipo do jornal e a ilustração da capa são xilogravuras do Carlitinho (Francisco Carlos Cavalcanti, hoje pró-reitor da UFAC) que, antes da solução de São Paulo, sugeriu substituir os clichês de Zinco encomendados em Porto Velho por placas de madeira. No processo em off-set, contudo, foram aproveitadas apenas as xilogravuras.
Num dos três quadrinhos montados no sentido vertical, completando a capa, foi anunciada uma entrevista com o pesquisador Agamenon Tavares de Almeida, o qual mandou para o reitor da época, Aulio Gélio, um recado que continua valendo: “A Universidade tem que ser aberta”.
A matéria sobre a briga pela terra foi uma “pauleira” só. Pegou a equipe de surpresa na boca da noite, no fechamento da edição, com a notícia de que os posseiros do seringal Nova Empresa tinham emboscado e morto o capataz Carlos Sérgio Zaparolli Siena e seu auxiliar, Oswaldo Gondim.
Calafrios na turma! Porque o Carlos Sérgio era o cara que o jornalista Antônio Marmo, nosso colaborador entrevistara dias antes; a matéria estava até diagramada na página 3 e todos sabiam que o ousado e perverso capataz corria risco de ser atacado pelos posseiros. Sua entrevista teve que ser deslocada para juntar-se às opiniões do governador Geraldo Mesquita, do bispo Dom Moacyr Grechi, do representante do Incra, do posseiro Caetano, do policial e do patrão do capataz nas páginas centrais.
Carlos Sérgio havia dito na entrevista que nasceu e foi criado no sistema capitalista, e que se mudassem o sistema, ele iria para a Austrália caçar Canguru. Quem o via costumeiramente em frente ao hotel Chuí paquerando as meninas nos fins de tarde, não podia imaginar que aquele jovem loiro, alto, magro, olhos azuis e voz educada, vivia a infernizar a vida das famílias do seringal Nova Empresa nas proximidades de Rio Branco. Mas vivia. O seringal tinha sido retalhado e vendido a um grupo de médios empresários do sul, entre os quais figurava seu patrão Arquimedes Barbieri, um industrial do ramo de tintas em São Paulo. E a função do Capataz era expulsar as famílias que teimavam em permanecer nas terras. Ele chefiava um bando para metralhar criações, queimar barracos e entupir varadouros.
O grupo sulista propôs ceder uma área com lotes demarcados (de 25 hectares cada) para colocar os posseiros dentro, como forma de indenização. Mas a estratégia tinha sido tentada em outras áreas conflitadas e quem aceitou se deu mal. O terreno cedido, imaginem, ficava geralmente num chavascal com difícil acesso, com lotes demarcados na mata bruta; as famílias, após curto tempo, largavam as terras preferindo vim passar dificuldades em Rio Branco.
O seringal Nova Empresa era o conflito mais próximo do Palácio do Governo, mas o governador Geraldo Mesquita tardou admiti-lo, apesar das denúncias apresentadas pelo Contag, Igreja, alguns políticos e pelos próprios seringueiros. O problema é que o governador contava com maus conselheiros na área de segurança. O seu secretário, Coronel José Maria de Araújo, confundia posseiro com jagunço; e o diretor da Polícia Judiciária, João Bernardino de Souza, um esperto advogado paulista vivia forçando acordos de terra dentro da repartição, intimidando as famílias com a presença de policiais e representantes dos fazendeiros.
O agricultor Antônio Caetano de Souza, cearense de 53 anos e pai de 18 filhos, chefiou a emboscada e disparou o primeiro tiro em Carlos Sérgio. Ele disse que cansou de procurar as autoridades pedindo uma solução negociada. Sob sua liderança, os posseiros decidiram agir por conta própria. “Eu atirei seguro para ele não escapar, e se não faço isso ele me matava”, declarou Caetano ao delegado Hilpídio Hilário, que o manteve numa cela do primeiro distrito policial.
A matéria do Varadouro é um documento histórico completo que dá a dimensão dos conflitos, omissões e irresponsabilidade do Acre nos anos 70/80.
A edição está recheada de boas matérias. Uma delas é sobre o Manoel Cantador, um menino que veio na leva dos expulsos da terra para cantar sua tragédia na cidade. Ele cantava a história do pai, vivida no “Seringal do Santo” onde “a mercadoria leva um tempo a faltar/ a borracha mal pesada/ saldo não querem pagar”. Depois que se fixou na cidade, Manoel cresceu e viveu de certa forma, tragédia maior.
Uma matéria pelo menos curiosa é a que recebeu o título de “Procura-se um modelo (acreano)”. O Fernando Garcia, engenheiro em urbanismo que dirigia o Departamento de Extensão Universitária da Ufac (depois fez mestrado na França e, ao retornar, optou pela Universidade da Paraíba), estava preocupadíssimo com o desenvolvimento do Acre, chegando a oferecer ao Varadouro a sugestão de pauta para discutir um modelo.
O jornal publicou a pauta praticamente como foi formulada, forçando o leitor a pensar nela como se fosse um repórter/redator. Fernando reclamou da solução encontrada pela redação, que se justificou dizendo tratar-se da tentativa de jornalismo interativo com os leitores. Talvez os editores tenham abusado no despojamento e experimentação.
Na página 15, sob o título “Bana Split”, saiu uma bronca contra as mudanças no hábito alimentar dos acreanos. O redator critica a predominância do “filé paulista” nos cardápios dos restaurantes da cidade, enquanto sumiam as paçocas e as tapiocas. Parecia um exagero do jornal, mas vá lá! O exagero acontecia também do outro lado, de forma desrespeitosa e burra contra as tradições do Acre.
Um simpósio de História previsto para aquele mês (agosto/77) ia reunir conferencistas importantes como Arthur César Ferreira Reis e Márcio de Souza. O jornal aproveitou para fazer um perfil dos ilustres “simposiastas”, palavra cunhada por um desembargador eufórico. Na seqüência, são publicados textos sobre a situação do professor rural, do marreteiro e outras dificuldades provocadas pelo êxodo da floresta para a cidade e pela migração que chegava do sul.
As cartas, como podem ver, chegavam encorajadoras de toda parte do país, um fato incomum no jornalismo, principalmente do norte, onde os leitores não têm o hábito de escrever para as redações. É claro que massageava o ego da turma do Varadouro. Assim como a publicidade, pequena, mas crescente e fiel, estimulava a turma. Observem que àquela época (há 30 anos), sob tiroteio e fumaça tinha gente da área empresarial mostrando a cara para defender o sentimento da acreanidade no Varadouro. Bons tempos!

varadouro 4º

Cem anos de andanças
Por Elson Martins
Em setembro de 1977 o economista Mário Lima, acreano de Brasiléia, não tinha feito ainda mestrado em Fortaleza (CE), nem doutorado na Unicamp (em Campinas-SP), talvez por isso, todo mundo entendia sem dificuldades o que ele falava sobre economia do Acre e sobre a ameaça de substituição da borracha pela pecuária nos seringais.
A entrevista que ele deu ao Varadouro número 4, disponibilizado agora em PDF neste site, contém uma boa análise da situação do estado naqueles tempos, assim como as idéias originais que defendeu para a reativação dos seringais permanecem atuais. Algumas delas, como a criação de capivara nos sítios e colônias, quase provocaram infarto no advogado e pecuarista João Tezza à época. E hoje só não convencem aos “tecnoburocratas” de Brasília que planejam o desenvolvimento da Amazônia à distância.
A entrevista vale uma releitura da edição do Varadouro, 30 anos depois, cuja matéria de capa e assunto principal foi o centenário de Migração Nordestina para o Acre (1877 – 1977), festejado num simpósio que o Governador Geraldo Mesquita promoveu com apoio da Universidade Federal do Acre e outras instituições. Participaram do evento os ex-governadores do Estado e outras importantes figuras amazônicas, entre elas o escritor Márcio Souza e o historiador Arthur César Ferreira Reis, abordados pela turma do jornal para enriquecer a discussão sobre a “bovinização” do Acre e outras pastadas que os acreanos sofrem desde meados do século passado.
O encontro foi um sucesso, e enquanto o desembargador Jorge Araken da Silva gritava, com orgulho e orgasmo, a palavra “simposiastas” se referindo aos ilustres convidados no auditório da UFAC, no centro da cidade, o jornal saiu às ruas com sua habitual irreverência: e foi colher testemunhos do seu Raimundo e seu Euclides, descendentes dos heróis de alpagartas que trocaram a seca do nordeste pelo dilúvio da Amazônia construindo uma história incomum nestas cabeceiras de rios.
O que resultou foi mais um belo trabalho do Varadouro, disponível a partir da página 9 da edição. Felizmente, desta vez, os problemas de impressão foram postergados. O jornal bateu um recorde imprimindo duas edições na mesma gráfica, em São Paulo, e a dor de cabeça ficou por conta apenas dos truncamentos e da diagramação com matérias compridas e mal balanceadas.
Pudera! Havia um voluntário acompanhando o jornal nas oficinas paulistas, mas ele não sabia nem pra que rumo ficava o Acre. Além disso, o pacote que recebeu com as matérias e um esboço de diagramação não era nenhum exemplo de profissionalismo. Observem que os anúncios foram desenhados (?) com caneta bic e quase nenhuma criatividade: em parte por falta de tempo e de um departamento de criação, mas também pela visão de conjunto de equipe que produzia o jornal e considerava esses detalhes irrelevantes.
Mesmo assim a qualidade do jornal, como se comprovou historicamente, conseguiu transpor as dificuldades operacionais e se impor por outros atributos. O principal era que manteve uma linha editorial corajosa, honesta e, sobretudo solidária. Com quê? Com um Acre acreano, épico, ecológico, humano e socialmente justo.
Monopólios do gás, da carne, dos hortifrutigranjeiros.... Pra que o Varadouro foi mexer nisso! Após a circulação do jornal, o Abrahim Farhat saiu atrás dos editores para advertir que o empresário Wilson Barbosa, tratado na matéria publicada a partir da página 6, queria fazer nossa barba com um terçado cego. Tratado por nós como “poderoso açougueiro”, estava querendo pendurar o pessoal num de seus açougues.
É claro que o Abrahim ajudou a contornar a situação, até porque, Wilson Barbosa, de origem boliviana, tinha sangue esquerdista correndo nas veias e admirava o trabalho do Varadouro. Essa história, que pode ser narrada mais na frente, tem muito a ver com o desenvolvimento de uma imprensa de qualidade no Acre de alguns anos atrás, financiada pelo “poderoso Wilson Barbosa”.
A seção de cartas, que nunca prosperou em outros jornais, antigos ou recentes, transbordava no Varadouro, mostrando o quanto o país se sentia sufocado com o regime militar. Um nanico dos confins da Amazônia lavava a alma de um leitor de Panambi, no Rio grande do Sul, ou Hidrolândia, em Goiás, e os pedidos de assinatura (com cheques antecipados enviados pelo correio) também não paravam de chegar. No meio das cartas encontravam-se as primeiras colaborações do Macunaíma Terry Aquino, aquele que colocou a luta em defesa dos índios da região na medida certa, com conhecimento e engajamento.
E pra encerrar, mais uma irreverência do Varadouro: a matéria sobre a rede Amazônica de Televisão (pagina 5). Quem viveu aquela época sabe do que o jornal está falando. E deve ter visto, em cores, um culhão apresentado em horário nobre como furo de reportagem.

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