segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Princípios do Parecer nº 003/2004

ATIVIDADE

Abra um editor de textos em seu computador e responda os seguintes questionamentos baseando-se no Parecer nº 003/2004, do Conselho Nacional de Educação, constante no livro Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-raciais (pág. 229 a 252), disponível na Plataforma.
Ao realizarmos a leitura do Parecer nº 003/2004, do Conselho Nacional de Educação, percebemos a relatora considerar que, para conduzir as ações de implementação do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, os sistemas de ensino, os estabelecimentos e os professores terão como referência três princípios.
Identifique estes princípios no referido Parecer, explicando com suas palavras cada um deles e, se possível, dando exemplos do nosso cotidiano escolar e da nossa realidade.


Nesta parte, o documento enumera princípios que devem reger o sistema de ensino no Brasil.
O primeiro chama-se “consciência política e histórica da diversidade”. Tal princípio, segundo o relatório, “deve conduzir à compreensão da igualdade básica da pessoa humana”, mas também ao entendimento de que “a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos”. E acrescenta que “em conjunto”, os grupos étnico-raciais ”constroem, na nação brasileira, a sua história”. Observe-se que não é mais a nação brasileira que constrói a sua história, são os grupos étnico-raciais que constroem os seus histórias no Brasil.
 No entanto acredito que falta um trabalho em conjunto, articulação entre processos educativos escolares, políticas públicas e movimentos sociais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nessas relações não se limitam à escola. Porque o que observo na escola na qual trabalho é a falta de mais conhecimento a respeito da temática, e falta de desempenho mesmo, quando o assunto é o racismo, o preconceito.
O segundo princípio chama-se “fortalecimento de identidades e de direitos”. Ele deve propiciar o surgimento de afirmação de identidades, a erradicação de imagens negativas associadas aos negros e o “esclarecimento a respeito de equívocos quanto a uma identidade humana universal”. O leitor pode estar assustado, mas leu direito. Segundo o relatório, há equívocos na ideia de que existe uma “identidade humana universal”.
O terceiro princípio chama-se “ações educativas de combate ao racismo e a discriminação”. Nele se e reclama a participação, “na elaboração de projetos políticos pedagógicos que contemplem a diversidade Movimento Negro, grupos culturais negros e a comunidade onde está localizada a escola étnico-racial”, dos seguintes atores sociais, nesta ordem.
Enfim, o que percebo na maioria das escolas, são projetos por datas comemorativas, como o dia da consciência negra ,no entanto falta aquele compromisso com o dia-a-dia, na qual as atenções deveriam está voltados para as atitudes relacionadas ao preconceito, as questões raciais.


Flaviana Coimbra

O Parecer nº 003/2004

Atividade 1

O Parecer nº 003/2004, do Conselho Nacional de Educação, fala em políticas de reparações, de reconhecimento e valorização, e de ações afirmativas em relação à população afrodescendente.
 Qual o objetivo dessas reparações e o que elas devem oferecer, em termos de educação, a esta população?

O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.
A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminações..
Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão.
A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10639/2003, que alterou a Lei 9394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas.
Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros.
Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos diferentes níveis de ensino.
Reconhecer exige que se questionem relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas, expressam sentimentos de superioridade em relação aos negros, próprios de uma sociedade hierárquica e desigual.
Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negros desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade, desde as formas individuais até as coletivas.
Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido explorados como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à comunidade negra.
Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, frequentados em sua maioria por população negra, contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação de negros e brancos, no sentido de que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem desrespeito e discriminação.
Políticas de reparações e de reconhecimento formarão programas de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo de combate ao racismo e a discriminações, tais como: a Convenção da UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas de 2001.
Assim sendo, sistemas de ensino e estabelecimentos de diferentes níveis converterão as demandas dos afro-brasileiros em políticas públicas de Estado ou institucionais, ao tomarem decisões e iniciativas com vistas a reparações, reconhecimento e valorização da história e cultura dos afro-brasileiros, à constituição de programas de ações afirmativas, medidas estas coerentes com um projeto de escola, de educação, de formação de cidadãos que explicitamente se esbocem nas relações pedagógicas cotidianas. Medidas que, convêm, sejam compartilhadas pelos sistemas de ensino, estabelecimentos, processos de formação de professores, comunidade, professores, alunos e seus pais.
Medidas que repudiam como prevê a Constituição Federal em seu Art.3º, IV, o “preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” e reconhecem que todos são portadores de singularidade irredutível e que a formação escolar tem de estar atenta para o desenvolvimento de suas personalidades (Art.208, IV).
O sucesso das políticas públicas de Estado, institucionais e pedagógicas, visando a reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros depende necessariamente de condições físicas, materiais, intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino e para aprendizagens; em outras palavras, todos os alunos negros e não negros, bem como seus professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados. Depende também, de maneira decisiva, da reeducação das relações entre negros e brancos, o que aqui estamos designando como relações étnico-raciais. Depende, ainda, de trabalho conjunto, de  articulação entre processos educativos escolares, políticas públicas, movimentos sociais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais não se limitam à escola.
É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos. É necessário sublinhar que tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Estas condições materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis para uma educação de qualidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de africanos.
Destina-se, o parecer, aos administradores dos sistemas de ensino, de mantenedoras de estabelecimentos de ensino, aos estabelecimentos de ensino, seus professores e a todos implicados na elaboração, execução, avaliação de programas de interesse educacional, de planos institucionais, pedagógicos e de ensino. Destina-se, também, às famílias dos estudantes, a eles próprios e a todos os cidadãos comprometidos com a educação dos brasileiros, para nele buscarem orientações, quando pretenderem dialogar com os sistemas de ensino, escolas e educadores, no que diz respeito às relações étnico-raciais, ao reconhecimento e valorização da história e cultura dos afro-brasileiros, à diversidade da nação brasileira, ao igual direito à educação de qualidade, isto é, não apenas direito ao estudo, mas também à formação para a cidadania responsável pela construção de uma sociedade justa e democrática.



Flaviana da Silva Coimbra
Conselho Nacional de Educação, fala em políticas de reparações, de reconhecimento e valorização, e de ações afirmativas em relação à população afrodescendente.

Após injúrias raciais, Grêmio suspende Geral por "tempo indeterminado"


Por 

Após injúrias raciais, Grêmio suspende Geral por "tempo indeterminado"

Porto Alegre

O caso de injúrias raciais envolvendo o goleiro Aranha, na partida entre Grêmio e Santos, na última semana, além dos cânticos fazendo referência à palavra “macaco” oriundos das arquibancadas, na partida deste domingo, diante do Bahia, fizeram com que o clube gaúcho tomasse medidas severas nesta segunda-feira. Em nota oficial, a diretoria comunicou a suspensão da torcida Geral por “tempo indeterminado”. 
Os torcedores da organizada também estão proibidos de utilizar a marca da torcida nas partidas do clube.  A ideia do Conselho de Administração é identificar todos os torcedores e sócios envolvidos no caso. 
Assessor especial da presidência para assuntos de torcida, Lauro Noguez, explicou que os torcedores poderão continuar a frequentar o estádio, desde que não utilizem a marca da torcida.  O representante do clube lamentou cânticos de torcedores localizados na arquibancada norte do estádio. O fato ocorreu durante a partida deste domingo, vencida pelo Grêmio por 1 a 0, quando parte da torcida localizada na arquibancada norte soltou o cântico "Olha a festa, macaco", uma música já tradicional da torcida organizada Geral do Grêmio (assista ao lado).

- Não era o momento de fazer aquilo. A gente sabe que não era jogo contra o Inter, mas macaco, universalmente, se refere à ofensa à raça negra. Como que eles vão cantar justamente ás vésperas do julgamento na quarta-feira? Eles estão suspensos até segunda ordem até que se apure, se identifique pessoas gritando e cantando - explica, ao GloboEsporte.com. 
Torcedores do Grêmio na partida contra o Bahia (Foto: Diego Guichard)Torcedores do Grêmio na partida contra o Bahia (Foto: Diego Guichard)
Segundo Lauro Noguez, o Conselho de Administração recebeu os cânticos da torcida como “provocativos” à atual direção.

- É uma provocação. Com que finalidade eu não sei. Desde que o doutor Fábio Koff assumiu, o Grêmio parou de dar ingresso, dinheiro ou subsidiar ônibus.  Deve ser algum dos motivos da manifestação. Por isso que estão inconformados, ainda mais em época de eleição - opina Noguez.
Confira a nota oficial 
1) Suspender por tempo indeterminado qualquer atividade da torcida organizada denominada Geral do Grêmio;

2) Proibir, por parte da referida torcida, a utilização das marcas de propriedade intelectual do Clube;

3) Identificar possíveis sócios envolvidos no episódio para ultimar medidas administrativas visando a seu desligamento da atividade associativa e da frequência ao estádio, se for o caso;

4) O Clube, diante dos últimos fatos ocorridos em relação ao campo de jogo, estudará, em conjunto com a Arena, formas de evitar que novos incidentes acarretem em multas, perda de mandos de campo e prejuízos à imagem do clube e de sua ordeira torcida.

Aos torcedores, jogadores e funcionários do Grêmio e integrantes das demais torcidas organizadas, agradecemos pelo apoio e engajamento que sempre emprestaram às campanhas de conscientização realizadas pelo Clube, especialmente no jogo do último domingo.
koff grêmio arena (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)Koff ficou inconformado com cânticos da torcida
(Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Repúdio de Koff

Após a última partida do Grêmio, disputada neste domingo, diante do Bahia, na Arena, o presidente do clube, Fábio Koff, adotou um tom forte diante dos cânticos entoados por parte da torcida, chamando os colorados de "macacos" (assista ao vídeo).

Em entrevista coletiva na Arena, Koff afirmou que a atitude oriunda do setor da Geral do Grêmio justamente no jogo seguinte às injúrias de Aranha pode ser vista como "proposital". Na quarta, o clube será julgado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e pode ser excluído da Copa do Brasil.

- Eu tenho a lamentar de novo os cânticos racistas que não cabem dentro do estádio. Não há como o Grêmio admitir isso como instituição. Nós temos que enfrentar o problema e com muito rigor, pois estamos sofrendo consequências... Estamos a dois dias de um julgamento que pode excluir o Grêmio de uma competição, e parece que propositalmente querem prejudicar o Grêmio. Que torcedor é esse que vai ao estádio para prejudicar o seu clube? - avaliou.

Polícia tenta intimar torcedora
torcedora gremio racismo aranha (Foto: Reprodução/ESPN)Torcedora chamou Aranha de "macaco" na quinta (Foto: Reprodução/ESPN)
A Polícia Civil pretende ouvir até o fim desta semana a jovem Patrícia Moreira, flagrada ao gritar "macaco" para o goleiro Aranha, do Santos, na partida contra o Grêmio, pela Copa do Brasil, na última quinta-feira. Segundo o delegado Herbert Ferreira, responsável pelas investigações, ela ainda não foi intimada a depor. Além de Patrícia, outros dois torcedores também foram identificados. Eles podem ser indiciados por injúria qualificada, que prevê de um a três anos de prisão.

Inicialmente, a polícia cogitava ouvir Patrícia ainda nesta segunda-feira. Porém, a intimação para interrogatório ainda não foi oficializada. Segundo o delegado, a tendência é que, nesta segunda, o comunicado aconteça. Mesmo assim, ela pode se apresentar espontaneamente.

No domingo, os policiais receberam um vídeo de mais de uma hora de duração com imagens de câmeras de segurança da Arena do Grêmio, em Porto Alegre, que mostram os possíveis atos relatados pelo jogador. As imagens já começaram a ser analisadas pelo delegado.

Patrícia Moreira foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Ela era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia na clínica da polícia militar gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro santista começaram a circular pelas redes sociais logo após a partida.
Jogo de volta suspenso
As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro Aranha tiveram mais um desdobramento. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou pedido da Procuradoria de Justiça Desportiva e suspendeu o jogo de volta entre as duas equipes, na próxima quarta-feira, até que o caso seja julgado. No primeiro duelo das oitavas da Copa do Brasil, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0.

O julgamento ocorrerá na próxima quarta-feira. O Grêmio responderá por ato de discriminação racial por parte de torcedores, além do arremesso de papel higiênico no gramado e atraso. O clube corre risco de exclusão na Copa do Brasil e multa de até R$ 200 mil. A denúncia se apoia no artigo 243-G (discriminação racial) e no 213 (arremesso de objeto em campo), ambos do CBJD. O clube responde ainda ao artigo 191 por descumprir o regulamento e entrar em campo três minutos após o horário previsto.es estão proibidos de utilizarem marca da torcida em partidas do clube

Por Porto Alegre
O caso de injúrias raciais envolvendo o goleiro Aranha, na partida entre Grêmio e Santos, na última semana, além dos cânticos fazendo referência à palavra “macaco” oriundos das arquibancadas, na partida deste domingo, diante do Bahia, fizeram com que o clube gaúcho tomasse medidas severas nesta segunda-feira. Em nota oficial, a diretoria comunicou a suspensão da torcida Geral por “tempo indeterminado”. 
Os torcedores da organizada também estão proibidos de utilizar a marca da torcida nas partidas do clube.  A ideia do Conselho de Administração é identificar todos os torcedores e sócios envolvidos no caso. 
Assessor especial da presidência para assuntos de torcida, Lauro Noguez, explicou que os torcedores poderão continuar a frequentar o estádio, desde que não utilizem a marca da torcida.  O representante do clube lamentou cânticos de torcedores localizados na arquibancada norte do estádio. O fato ocorreu durante a partida deste domingo, vencida pelo Grêmio por 1 a 0, quando parte da torcida localizada na arquibancada norte soltou o cântico "Olha a festa, macaco", uma música já tradicional da torcida organizada Geral do Grêmio (assista ao lado).

- Não era o momento de fazer aquilo. A gente sabe que não era jogo contra o Inter, mas macaco, universalmente, se refere à ofensa à raça negra. Como que eles vão cantar justamente ás vésperas do julgamento na quarta-feira? Eles estão suspensos até segunda ordem até que se apure, se identifique pessoas gritando e cantando - explica, ao GloboEsporte.com. 
Torcedores do Grêmio na partida contra o Bahia (Foto: Diego Guichard)Torcedores do Grêmio na partida contra o Bahia (Foto: Diego Guichard)
Segundo Lauro Noguez, o Conselho de Administração recebeu os cânticos da torcida como “provocativos” à atual direção.

- É uma provocação. Com que finalidade eu não sei. Desde que o doutor Fábio Koff assumiu, o Grêmio parou de dar ingresso, dinheiro ou subsidiar ônibus.  Deve ser algum dos motivos da manifestação. Por isso que estão inconformados, ainda mais em época de eleição - opina Noguez.
Confira a nota oficial 
1) Suspender por tempo indeterminado qualquer atividade da torcida organizada denominada Geral do Grêmio;

2) Proibir, por parte da referida torcida, a utilização das marcas de propriedade intelectual do Clube;

3) Identificar possíveis sócios envolvidos no episódio para ultimar medidas administrativas visando a seu desligamento da atividade associativa e da frequência ao estádio, se for o caso;

4) O Clube, diante dos últimos fatos ocorridos em relação ao campo de jogo, estudará, em conjunto com a Arena, formas de evitar que novos incidentes acarretem em multas, perda de mandos de campo e prejuízos à imagem do clube e de sua ordeira torcida.

Aos torcedores, jogadores e funcionários do Grêmio e integrantes das demais torcidas organizadas, agradecemos pelo apoio e engajamento que sempre emprestaram às campanhas de conscientização realizadas pelo Clube, especialmente no jogo do último domingo.
koff grêmio arena (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)Koff ficou inconformado com cânticos da torcida
(Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Repúdio de Koff

Após a última partida do Grêmio, disputada neste domingo, diante do Bahia, na Arena, o presidente do clube, Fábio Koff, adotou um tom forte diante dos cânticos entoados por parte da torcida, chamando os colorados de "macacos" (assista ao vídeo).

Em entrevista coletiva na Arena, Koff afirmou que a atitude oriunda do setor da Geral do Grêmio justamente no jogo seguinte às injúrias de Aranha pode ser vista como "proposital". Na quarta, o clube será julgado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e pode ser excluído da Copa do Brasil.

- Eu tenho a lamentar de novo os cânticos racistas que não cabem dentro do estádio. Não há como o Grêmio admitir isso como instituição. Nós temos que enfrentar o problema e com muito rigor, pois estamos sofrendo consequências... Estamos a dois dias de um julgamento que pode excluir o Grêmio de uma competição, e parece que propositalmente querem prejudicar o Grêmio. Que torcedor é esse que vai ao estádio para prejudicar o seu clube? - avaliou.

Polícia tenta intimar torcedora
torcedora gremio racismo aranha (Foto: Reprodução/ESPN)Torcedora chamou Aranha de "macaco" na quinta (Foto: Reprodução/ESPN)
A Polícia Civil pretende ouvir até o fim desta semana a jovem Patrícia Moreira, flagrada ao gritar "macaco" para o goleiro Aranha, do Santos, na partida contra o Grêmio, pela Copa do Brasil, na última quinta-feira. Segundo o delegado Herbert Ferreira, responsável pelas investigações, ela ainda não foi intimada a depor. Além de Patrícia, outros dois torcedores também foram identificados. Eles podem ser indiciados por injúria qualificada, que prevê de um a três anos de prisão.

Inicialmente, a polícia cogitava ouvir Patrícia ainda nesta segunda-feira. Porém, a intimação para interrogatório ainda não foi oficializada. Segundo o delegado, a tendência é que, nesta segunda, o comunicado aconteça. Mesmo assim, ela pode se apresentar espontaneamente.

No domingo, os policiais receberam um vídeo de mais de uma hora de duração com imagens de câmeras de segurança da Arena do Grêmio, em Porto Alegre, que mostram os possíveis atos relatados pelo jogador. As imagens já começaram a ser analisadas pelo delegado.

Patrícia Moreira foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Ela era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia na clínica da polícia militar gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro santista começaram a circular pelas redes sociais logo após a partida.
Jogo de volta suspenso
As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro Aranha tiveram mais um desdobramento. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou pedido da Procuradoria de Justiça Desportiva e suspendeu o jogo de volta entre as duas equipes, na próxima quarta-feira, até que o caso seja julgado. No primeiro duelo das oitavas da Copa do Brasil, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0.

O julgamento ocorrerá na próxima quarta-feira. O Grêmio responderá por ato de discriminação racial por parte de torcedores, além do arremesso de papel higiênico no gramado e atraso. O clube corre risco de exclusão na Copa do Brasil e multa de até R$ 200 mil. A denúncia se apoia no artigo 243-G (discriminação racial) e no 213 (arremesso de objeto em campo), ambos do CBJD. O clube responde ainda ao artigo 191 por descumprir o regulamento e entrar em campo três minutos após o horário previsto.

domingo, 31 de agosto de 2014

Eu tenho dó dela', diz goleiro Aranha sobre jovem que o ofendeu em jogo

Edição do dia 31/08/2014
31/08/2014 22h33 - Atualizado em 31/08/2014 23h41

'Eu tenho dó dela', diz goleiro Aranha sobre jovem que o ofendeu em jogo

'Às vezes a gente deixa passar, finge que não ouve, mas por dentro dói', diz Aranha. Goleiro do Santos desabafa sobre ofensas sofridas em partida.

Aos 33 anos de idade, com 15 de futebol profissional, ele se viu acuado no estádio. O goleiro Aranha, do Santos, foi ofendido por torcedores do Grêmio na quinta-feira (28).
O time identificou cinco agressores até agora. Patrícia Moreira acabou se tornando um símbolo deles. Confira no vídeo acima a íntegra da entrevista com o goleiro.

Aranha: Eles vinham na muretinha como se fossem saltar e vir para cima e eu estava preparado.
Fantástico: Para quê?
Aranha: Para o que der e viesse.
Fantástico: Você achou que eles iam te atacar?
Aranha: Sim, por que não? A raiva que eles estavam, porque eles ficaram mais nervosos porque eles acharam que como a maioria faz, como eu mesmo já fiz várias vezes ali, até mesmo ano passado, a gente escuta e finge que não ouve.
Na quinta-feira, Aranha não fingiu. “E aí quando eles começaram a emitir som de macaco, aí eu não tive dúvida, aí eu não aguentei. Aí eu falei: ‘Ah, vou ter que estourar, é agora, não tem jeito’. Porque às vezes a gente tem que dar uma de louco, como a gente fala, senão ninguém presta atenção, ninguém te escuta”, conta o goleiro.
Fantástico: Você já tinha passado por essa situação?
Aranha: Centenas e milhares de vezes. No futebol isso infelizmente é normal.
Aranha diz que o problema é de todos. “Sempre quando acontece de acontece briga no estádio, esse negócio de racismo, de vandalismo, aí a gente costuma dizer, os clubes e todo mundo costuma dizer, ‘não são torcedores, é a minoria’. Mas a minoria manda? Se tinha duas mil pessoas ali atrás e cinco estavam tomando essa atitude, por que as outras pessoas não cobraram delas uma postura melhor?”, questiona Aranha. 
O Grêmio, que ainda pode ser punido até com a exclusão da Copa do Brasil, identificou cinco agressores até agora. Patrícia Moreira acabou se tornando um símbolo deles.

Fantástico: O que você achou dessa moça, quando você viu ela falando 'macaco', e aquela imagem bem fechada nela.
Aranha: Eu tenho dó dela. Como ser humano, e pelas consequências.
Patrícia perdeu o emprego, a casa dela foi apedrejada e ela deve depor nessa segunda-feira (1º) na polícia de Porto Alegre.
Aranha diz que aprendeu a enfrentar o preconceito ouvindo rap. Confira no vídeo ao lado mensagens de apoio a Aranha e contra o racismo.
“Eu tive a felicidade de aprender muito com o rap, porque esse pessoal, como sempre foi um pessoal sofrido e acusado e agredido. É um pessoal bem informado sobre política, sobre religião, sobre a sua história, a história do seu país. Como na periferia a gente ouve muito isso, porque é aquilo que está na nossa realidade, eu cresci preparado para esse tipo de situação”, diz Aranha. 
Fantástico: Fora dos estádios você também tem problema? Sofre com o racismo?
Aranha: Tem, tem. Isso aí muita gente tem. A gente vale o que tem. Ou o nome que tem. Eu sei que muitas vezes eu não sou aceito, eu sou tolerado. Porque sou o goleiro do Santos, bicampeão mundial. E porque eu tenho um carro bonito, porque eu compro isso, eu compro aquilo. Então muitas vezes eu sou tolerado, não sou aceito. Eu já morei em prédios, minha família está de testemunha, que não me davam nem bom dia.
Fantástico: A sua família acaba sendo atingida também, sofre com isso tudo, o teu enteado. Meu filho, é. Ele acabou colocando que tem orgulho de ter um pai negro.
Bernardo Maron, enteado de Aranha: Eu estava assustado, triste, porque eu não esperava que ainda esse pensamento ainda estava na cabeça das pessoas, pensava que tinha acabado.

Na noite de quinta, Bernardo, de 13 anos, entrou em uma rede social para dar apoio ao pai. “Eu fiquei quietinho na minha aí eu fui lá e pensei em escrever isso: ‘Eu já cansei disso, que isso é uma palhaçada e que eu tenho orgulho de ter um pai negro’”, conta ele.
Depois, telefonou para ele. “Eu falei: ‘força, pai, eu te amo’”, conta o menino.
“A gente já prepara uma conversa antes porque sabe que no próximo dia de escola vai ter aquela polêmica, ‘nossa, o que aconteceu com o seu pai’, só que graças a Deus eles são muito maduros, o futebol amadureceu até os meus filhos”, diz Juliana Costa, mulher de Aranha.
Na manhã seguinte, em um comunicado, Aranha citou um discurso de Martin Luther King, o famoso ativista americano assassinado em 1968 que lutou pela igualdade racial.
“Eu citei um trecho do Martin Lutther King, "I Have a Dream", que ele fala que ele tem um sonho que todas as pessoas fossem julgadas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”, diz o jogador.
Fantástico: Nos estádios, qual seria a punição para que isso não voltasse a se repetir?
Aranha: Essa mocinha aí, nunca mais pisar na Arena. Porque outras pessoas vão falar 'se eu tomar uma atitude dessas, se eu for flagrado, eu nunca mais vou acompanhar o time que eu gosto'. O futebol está caminhando para um lado de empresa, de espetáculo, mas as pessoas que vão assistir têm que se comportar como tal. Eu acho que a principal punição tem que ser essa, da pessoa nunca mais pisar no estádio, em um lugar público, porque ela me xingou ali, mas tinha vários outros negros ali.

Falta d'água em cidades tem a ver com devastação desenfreada da Amazônia

Edição do dia 31/08/2014
31/08/2014 22h31 - Atualizado em 31/08/2014 22h31

Falta d'água em cidades tem a ver com devastação desenfreada da Amazônia

Chuvas que recarregam reservatórios da região Sudeste são oriundas da Amazônia. Árvores são ‘toque final’ da máquina biológica que produz chuvas.

O chão foi o destino de 20% das árvores da Floresta Amazônica original. Que isso vem acontecendo há anos, todos sabem. O que você provavelmente não sabe é que esse crime ambiental tem a ver com a falta d'água na maior cidade da América Latina. É que a Amazônia bombeia para a atmosfera a umidade que vai se transformar em chuva nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Quanto maior o desmatamento, menos umidade e, portanto, menos chuva. E sem chuva, os reservatórios ficam vazios e as torneiras, secas.
É guerra contra a cobiça. No coração da Amazônia, o exército formado pelo Ibama, pela Funai e pela Polícia Federal atinge mais um alvo. Garimpeiros presos, madeireiros multados, equipamentos destruídos. E a prova do crime apreendida. Esse é o front de um conflito que já dura pelo menos quatro décadas no Brasil. Desde que as primeiras estradas rasgaram a floresta para permitir a colonização. Caminhos que acabaram facilitando também o acesso de exploradores gananciosos e sem escrúpulos. Um crime ambiental que ainda está longe do fim.
Uma árvore que leva mais de 100 anos para crescer. E que em menos de um minuto, já pode estar derrubada. E o pior é que a madeira nem é aproveitada. Nesse tipo de desmatamento, o objetivo é simplesmente derrubar tudo, tocar fogo e transformar a área em pastagem para a criação de gado. Um crime ambiental que geralmente só é notado pelos fiscais tarde demais, quando a floresta já virou carvão.
Clareiras somam área maior que França e Alemanha juntas
“Isso aqui é roubo de terras da União. Grileiros furtam a terra da União, praticam o desmate multiponto, vários pontos embaixo da floresta, dificultando o satélite de enxergá-lo.”, explica Luciano de Menezes Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama.
O que os olhos poderosos dos satélites não veem, a floresta, lamentavelmente, sente: 20% das árvores da Amazônia original já foram para o chão. Restaram imensas clareiras que somam uma área maior que a França e a Alemanha juntas.
O Fantástico acompanhou, com exclusividade, a maior operação contra grileiros na Amazônia neste ano. Em uma conversa gravada pela Polícia Federal com autorização da Justiça, um dos presos admite que o interesse dos criminosos é apenas nas terras.
“Como a floresta lá é muito bruta, os troncos são muito grossos, então o custo é muito grande. São árvores antigas, árvores velhas”, ele diz.
Consequências da devastação estão próximas de todos
Derrubadas e garimpos deixam uma cicatriz gigantesca na mata que pode parecer um problema exclusivo de árvores e bichos, distante da maioria das pessoas. Mas a ciência e as novas tecnologias comprovam que as consequências da devastação estão muito mais próximas de todos nós.
Nascentes que já não vertem mais água. Represas com menos de 10% de sua capacidade original de armazenagem. Uma delas, por exemplo, perto de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, deveria ter em um ponto uma profundidade de pelo menos cinco metros. Está agonizando. Mas o que a falta de água nesta região do país tem a ver com a Amazônia que fica a mais de 2 mil quilômetros de distância? Tudo, absolutamente tudo, segundo cientistas que estudam as funções da floresta e as variações climáticas na América do Sul.
“Essas chuvas que ocorrem principalmente durante o verão, a umidade é oriunda da Amazônia. E essa chuva que fica vários dias é que recarrega os principais reservatórios da Região Sudeste.” explica Gilvan Sampaio, climatologista do Inpe.
Fantástico tem acesso exclusivo a relatório sobre futuro climático
O Fantástico teve acesso exclusivo ao relatório sobre o futuro climático da Amazônia que só vai ser divulgado oficialmente na Conferência Sobre o Clima em Lima, no Peru, no fim deste ano. O trabalho desenvolvido em parceria por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Inpa, que investiga a Amazônia, reúne mais de 200 estudos e traça um minucioso roteiro das chuvas no continente sul-americano.
“Está mudando o clima. A gente vê isso acontecendo na Amazônia. Tem muitos trabalhos mostrando que a extensão da estação seca está se prolongando”, diz Antônio Nobre, pesquisador do Inpa.
De acordo com esse relatório, nos últimos 400 milhões de anos, a umidade que evapora dos oceanos é empurrada naturalmente pelos ventos para dentro dos continentes. Uma parte desse vapor vira chuva e cai, principalmente, sobre as grandes florestas na altura do Equador. O excesso de umidade segue empurrado pelos ventos, atravessa os continentes e acaba indo para o mar. Um ciclo que ao redor da Terra só tem uma exceção: a Amazônia.
Diferencial da Amazônia
O que torna a Amazônia diferente de todas as grandes florestas equatoriais do planeta é a Cordilheira dos Andes. Um imenso paredão, de 7 mil metros, que impede que as nuvens se percam no Pacífico. Elas esbarram na Cordilheira e desviam para o Sul.
“Esses ventos viram aqui e se contrapõem à tendência natural dessa região aqui de ser deserto. É uma região que produz 70% do PIB da América do Sul - região industrial, agrícola, onde está a maior parte da população da América do Sul”, explica Antônio Nobre, pesquisador do Inpa.
Mas de onde vem tanta água? Como funciona a fantástica máquina biológica que faz chover? Segundo os cientistas, o toque final cabe às árvores.
Fincadas a até 20 ou 30 metros de profundidade, as raízes sugam a água da terra. Os troncos funcionam como tubos. E, pela transpiração, as folhas se encarregam de espalhar a umidade na atmosfera.
Diariamente, cada árvore amazônica bombeia em média 500 litros de água.
A Amazônia inteira é responsável por levar 20 bilhões de toneladas de água por dia do solo até a atmosfera, 3 bilhões de toneladas a mais do que a vazão diária do Amazonas, o maior rio do mundo.
“Se você tivesse uma chaleira gigante ligada na tomada, você precisaria de eletricidade da Usina de Itaipu, que é a maior do mundo em potência, funcionando por 145 anos para evaporar um dia de água na Amazônia. Quantas Itaipus precisaria para fazer o mesmo trabalho que as árvores estão fazendo silenciosamente lá? 50 mil usinas Itaipu”, explica Antônio Nobre.
“Rio voadores” cruzam o Brasil
Esse imenso fluxo de água pelos ares é chamado de "rios voadores". O Fantástico chamou a atenção para a importância desses rios já em 2007. Imagens feitas de um avião do projeto "rios voadores" revelam nuvens densas, carregadas de água, cruzando todo o Brasil.
Testes feitos em laboratório comprovaram: mais da metade da água das chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e também na Bolívia, no Paraguai, na Argentina, no Uruguai e até no extremo sul do Chile vem da Amazônia.
Para os cientistas, uma prova irrefutável do papel dos Andes e da Floresta Amazônica no ecossistema do cone-sul é a inexistência de um deserto nessa região. Basta olhar o globo para constatar que na mesma latitude em volta do planeta tudo é deserto. Menos na América do Sul.
Os pesquisadores não têm dúvida: sem a Amazônia, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul fatalmente seriam desertos também.
“Para quem está no Brasil, seja Porto Alegre ou Manaus ou São Paulo tem que saber que a água que consome em sua residência, uma parte dela vem da Amazônia e que por isso temos que preservar”, alerta Gilvan Sampaio.
Devastação bloqueia “rios voadores” em São Paulo
As imagens dos satélites que acompanham a movimentação das nuvens de chuva comprovam que a grande seca que assola as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, em parte, está relacionada aos desmatamentos. No estado de São Paulo, por exemplo, a devastação da Mata Atlântica permite a formação de uma massa de ar quente na atmosfera. Tão densa que chega a bloquear os “rios voadores”, já enfraquecidos por conta do desmatamento na Amazônia. Represados no céu, eles acabam desaguando no Acre e em Rondônia, onde, este ano, foram registradas as maiores enchentes da história.

MP e Receita Federal entram na luta contra o desmatamento
Na luta contra o desmatamento, o Ibama, a Funai e a Polícia Federal acabam de ganhar mais um aliado: o Ministério Público, que passou a juntar dados da Receita Federal para poder enquadrar as quadrilhas também por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, falcatruas que podem levar a mais de 10 anos de cadeia.
Pelas contas da Procuradoria da República no Pará, só a quadrilha presa na última operação desviou dos cofres públicos R$ 67 milhões em impostos. Um crime que mistura ganância e ignorância.
Fantástico: Quando você mete a motoserra em uma árvore que levou 100 anos para chegar daquele tamanho, não dá dó?
Homem: Não tem como a gente ter dó das coisas. Ninguém tem dó da gente também, né? Tem que desmatar para viver, né?
“Eu não sei se tá errado, não. Pra mim, está certo porque eu estou trabalhando. Enquanto os vagabundos ficam soltos na cidade, a gente tem que trabalhar escondido. Aí é difícil”, diz uma mulher.
Reflorestar áreas desmatadas antes que seja tarde
Um comportamento que bate de frente com os interesses de quem depende da Amazônia para produzir alimentos de forma legal.
“É do interesse do próprio agricultor ou produtor de gado ou de quem está querendo produzir energia que a floresta seja mantida. Porque ela é o que garante que tenha água necessária para essas atividades econômicas poderem existir”, diz o engenheiro florestal Tasso Azevedo.
Os gráficos do Inpe revelam que os desmatamentos na Amazônia já caíram aos níveis mais baixos das últimas duas décadas, mas ainda que tivessem sido completamente zerados, os cientistas não estariam tranquilos. Eles alertam que é preciso também reflorestar as áreas desmatadas antes que seja tarde.
“Existe um fato simples: se você tira floresta, você tira fonte de umidade, muda o clima. E nós tiramos floresta. Isso foi o que a gente fez nos últimos 40 anos. O clima é um juiz que sabe contar árvores, que não esquece e não perdoa”, afirma Antônio Nomes

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