quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Fome de Marina

A Fome de Marina

Por José Ribamar Bessa Freire*
Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.
Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.
De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.
A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.
Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.
Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.
Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.
Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco, quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.
Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.
Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.
Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il pète de santé”.
O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.
(*) Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Silvio Martinello lança seu novo livro ‘ACRE

Por Geisy Negreiros, do jornal A Gazeta   
Sex, 03 de Setembro de 2010 09:30
Quarta obra do jornalista sobre a história do Acre será lançada na próxima segunda-feira, 6, às 19h30, no Memorial dos Autonomistas

Silvio Martinello: "o livro tem cheiro de bicho, de mato, de sangue, mas também muita política"
Depois de A Ilha da Consciência, Corações de Borracha e Amanda, o jornalista e escritor Silvio Martinello admite que exagerou neste seu novo livro, ACRE – onde o vento faz a curva, que será lançado na próxima segunda-feira, 6, às 19h30, no Memorial dos Autonomistas.

O jornalista pegou - ou teria seqüestrado? - um Boeing em Rio Branco e o jogou em um descampado no meio da floresta amazônica. Como ele descreve, “era uma noite estranha, muita estranha”.

O Acre, pelo menos, como ele também observa, “estava fora dos eixos”, porque naquele avião estavam representadas todas as classes sociais do Estado. Nesta clareira, ou seria um geoglifo ou um sítio arqueológico? - os passageiros, primeiro, terão que sobreviver a partir do nada.

Como tudo no Boeing fora sabotado, terão que começar pelo fogo friccionando os pauzinhos como “homens e mulheres das cavernas”. A procurar água e comida na selva. A se defender dos predadores. Porém, seus problemas não acabam aí. Além de sobreviver nas condições mais adversas, os passageiros do Boeing terão que se entender. Divididos em partidos políticos, religiões e seitas, clubes de futebol e galeras, vai ser dureza suportarem uns aos outros, repartirem as tarefas, comerem da mesma comida, dividir a mesma oca.


Catarinense de Criciúma, Martinello vive no Acre há mais de 30 anos e não esconde a paixão pela terra: "o Acre é mágico, enjoado, abusado e tudo pode acontecer"


E aí começam a surgir e sobressair todo tipo de personagens, como o indigenista Leonardo, um “petista hormonal”, e sua Daní Huni Kui; conservacionistas do “verde” e desenvolvimentistas do “manejo”, que já não estão se entendendo; floresteiros e fazendeiros;  empreiteiros do PAC; índios “fofinhos” e índios “caçadores de cabeça”; narcotraficantes e guerrilheiros; jornalistas, blogueiros, twitteiros, gringos e ongueiros.

Até atores globais e hollywoodianos. Para atazanar a paciência de todos, um sujeito insolente, cara-azeda-de-quandu.  Contudo, ACRE – onde o vento faz a curva não é apenas uma diversão, uma aventura. Valendo-se de seu estilo ágil, sardônico, Silvio Martinello leva o leitor a uma reflexão sobre a história do Acre, seus heróis, suas idiossincrasias, chegando até ao “bom momento” atual que o Estado está vivendo.

Tem mais, este quarto livro de Silvio Martinello contém uma história em si mesmo. Como ele diz, na entrevista a seguir, “tem cheiro de bicho, de mato, de sangue, mas também muita política”, e um grande susto.


A GAZETA – Por que seu livro tem “cheiro de bicho, de mato, de sangue, mas também  muita política”?

Silvio Martinello -
Porque, além da história ser ambientada quase toda no meio da floresta, com muito verde, muitos bichos de todas as espécies e tamanhos, o livro foi escrito na Colocação Mulateiro, um pedacinho, uma nesga de alguns hectares de floresta, localizada aqui perto de Rio Branco.

Ao longo dela, corre um igarapé, onde ainda se podem ver jacarés, pacas, cutias, coatipurus, capivaras. Até uma sucuri mora em um dos poços. Foi observando esses bichos e seus comportamentos que surgiram alguns personagens do livro.

A GAZETA – Por exemplo?

Silvio Martinello -
Um sujeito insolente, folgado, um rebelde sem causa, que vive a aporrinhar os sobreviventes do Boeing que cai - ou é abduzido - no meio da selva. Ninguém pode propor nada para se safarem daquela situação, ninguém pode encostar, chegar perto que ele vai soltando desaforos. Foi observando um porco-espinho, que vem à noite comer as talas de coqueiros, que me ocorreu a idéia de apelidar esse personagem de cara-azeda-de-quandu. Quandu é como os seringueiros chamam o porco-espinho ou ouriço caixeiro.  Uma noite, o cachorro do caseiro acuou o bicho e o cachorro levou a pior. Correu da briga com o focinho cravejado de espinhos que o quandu soltou de sua carcaça.

A GAZETA – Outro exemplo?

Silvio  Martinello -
Os macacos-de-cheiro. Foi também observando o comportamento desses macacos que os coloquei no livro. Como o quandu, eles também saem da mata e vêm em bandos comer banana, goiaba, manga, todo tipo de frutas que encontram na colocação. Ao contrário, porém, do quandu, eles são muito companheiros, solidários entre si.

As mães têm um cuidado todo especial com os filhotes. Por isso, que eles aparecem no livro oferecendo frutas para os sobreviventes do avião. Porém, ficam atônitos e irritados quando se deparam com um grupo de sobreviventes, seus “primos” no topo da cadeia evolutiva, brigando por algumas barras de cereais.

A GAZETA -  E a história do susto? Foi também algum bicho, alguma onça que apareceu na Colocação Mulateiro?


Silvio Martinello –
Pior do que onça. No dia em que escrevi o último capítulo, em maio, salvo engano, à noite, ladrões arrombaram a casa e, claro, entre outros objetos, levaram o computador. Por sorte, algumas semanas antes, a Ivete, sempre ela, por isso que é minha musa, havia feito o back up e foi possível recuperar o livro. Mesmo assim, tive que reescrever os últimos capítulos e as correções que já havia feito. Deu um trabalhão. Mas não foi por falta de aviso, porque Ivete vivia avisando: “Cuidado! Faça cópias! Você é muito relaxado, ainda vai perder esse livro”.

A GAZETA – Por que o título ACRE – onde o vento faz a curva? É apenas uma expressão, uma brincadeira ou é mesmo verdade que o vento faz a curva no Acre?

Silvio Martinello –
Como os meus 37 leitores poderão conferir no começo do livro, meu assessor para assuntos meteorológicos, El Brujo, Davi Friale, prova com sólidos argumentos e gráficos que é a mais pura verdade: o vento faz sim a curva no Acre. Em resumo, tudo se explica pelo paredão que faz a Cordilheira dos Andes. Outros estudiosos torcem um pouco o nariz para esta história, mas acabam concordando, em termos. Além disso, é preciso sempre partir do princípio de que o Acre é mágico, enjoado, abusado e tudo pode acontecer.

A GAZETA – Como assim, tudo pode acontecer?


Silvio Martinello – É outro capítulo do livro. Assim que o Boeing levanta vôo do aeroporto de Rio Branco é tragado por uma ventania muito forte.  O piloto jura que vê os mesmos objetos voadores não identificados que uma equipe da TV GAZETA chegou a filmar.

A partir daí, tudo se apaga, tudo  é sabotado no avião. Mesmo assim, perdendo, completamente, o controle, a aeronave consegue pousar inteira – ou é abduzida – em uma clareira rasgada no meio da selva amazônica. Eu te pergunto: o que vem a ser essa clareira?

A GAZETA – Huumm? Sei lá, uma área desmatada, uma fazenda?


Silvio Martinello - Negativo. É um geoglifo. Ora, existem coisas mais fantásticas, mais misteriosas, mais mágicas do que esses 300 geoglifos que foram descobertos no Acre, sobre os quais, a rigor, ainda não se sabe quem os construiu e com que finalidade?

A GAZETA – E aí o que acontece com o Boeing e com os passageiros que pousam no geoglifo?

Silvio Martinello –
Tudo o que você possa imaginar. Mas aí também você já está querendo demais, que eu conte tudo sobre o livro.


A GAZETA – Tudo bem. O senhor ou você já escreveu três livros, abordando os três grandes momentos ou Ciclos Econômicos do Acre. A Ilha da Consciência, que trata sobre os primórdios da conquista do Acre. O segundo, Corações de Borracha, sobre os Soldados da Borracha, durante a Segunda Guerra. O terceiro, Amanda, sobre a entrada da pecuária no Estado, na década de setenta. Este quarto livro, Acre – onde o vento faz a curva, além desses fenômenos do vento fazendo a curva, de óvnis, geoglifos, trata do que?

Silvio Martinello – Quer saber mesmo? Do atual ciclo, que chamo de o Ciclo do Asfalto e do Concreto, esse “bom momento” que o Acre está vivendo. Por isso, também, que o livro contém muita política. Leonardo, por exemplo, um dos principais personagens, é um “petista hormonal”, que pega briga feia de rua, para defender seu ídolo maior, o presidente Lula. Mas, é um idiota em política, em governabilidade e entra em profunda depressão quando estoura o “escândalo do mensalão”. Como existem situa-ções, personagens reais e fictícios, também não vou falar mais. É preciso ler o livro.

A GAZETA – Tudo bem. Como o senhor – desculpe, você – lida com este drama da concorrência da internet, vivido hoje pelos escritores e também por nós jornalistas dos jornais impressos?

Silvio Martinello –
Quando surgiu esse fantástico mundo virtual, da internet e tudo o que se seguiu e ainda está por acontecer, confesso que sofri um bocado. As tiragens dos jornais despencaram, os livros viraram objetos de decoração nas estantes. Hoje, não sofro mais, porque já está havendo uma reacomodação das diversas mídias.

Cada qual – o jornal, o livro, a televisão, o rádio, os sites, os blogs, o twitter etc. – vão ocupando seus devidos espaços. Aliás, este também é um tema que trato em um dos capítulos do livro. Quando o indigenista Leonardo entra no Boeing e vai logo pedindo um jornal, a aeromoça responde: “não servimos mais este tipo prato, senhor”. Ele fica muito puto.

A GAZETA Por quê?

Silvio Martinello – Primeiro, porque é um turrão. Não quer dar o braço a torcer para as novas mídias. Depois, porque ele não imagina uma civilização, uma sociedade sem livros, sem jornais, sem bibliotecas, sem teatros. Em termos, concordo com ele: até que houver gente pesquisando, escrevendo, lendo, contando histórias, fazendo teatro, compondo músicas, haverá esperanças de um mundo melhor, civilizado, democrático, solidário. Quando isso cessar, será a estupidez, o egoísmo, os fundamentalismos, a barbárie.

A GAZETA - Como falamos acima, este já é seu quarto livro. Como foi a receptividade de seus livros?

Silvio Martinello
– Não tenho do que reclamar. O primeiro, A Ilha da Consciência, está na segunda edição e praticamente esgotado. Foi tema de um seminário no curso de Letras da Ufac e esta semana, por coincidência, 40 alunos também do curso de Letras me procuraram para fazer um desconto no preço, porque vão fazer outro seminário. O segundo, Corações de Borracha, está esgotado e também foi tema de um seminário na Ufac. Wellington Souza, um formando de Letras da mesma UFac, escolheu os meus livros como tese de seu mestrado.

Resumindo: se o grande escritor russo, Lev Tolstoi, não tivesse dito em 1900 que quando escrevia, escrevia para sua aldeia, eu seria o primeiro a dizer que escrevo para a minha aldeia, o Acre, e isso é muito gratificante. Outro dia, passeando no Parque Chico Mendes, dando banana para os macacos, um bom velhinho com seus 70 e tantos me parou e disse que estava lendo Corações de Borracha; havia chegado à página 275.

A GAZETA – E como é que o senhor - ou você - escreve?

Silvio Martinello
- Bom você perguntar, porque faço sempre questão de ser muito claro e honesto quando piso neste terreno alagadiço. Antes de tudo, sou jornalista, escrevo como jornalista, com a técnica jornalística e a visão do jornalista. Não faço, portanto, concorrência com os literatos, poetas nem com historiadores.

Porém, a nós, jornalistas, é permitido fazer o que se convencionar chamar de “jornalismo literário”, que os americanos chamam de “new journalism”. Não é ainda o meu caso, um dia chego lá (risos), mas no Brasil temos bons jornalistas escritores como Fernando Morais, Carlos Heitor Cony, Elio Gaspari, Laurentino Gomes. Fernando Sabino e Rubem Braga eram bons jornalistas e foram bons escritores. Só para citar alguns.

A GAZETA – E é difícil escrever livro no Acre?


Silvio Martinello
– É. Este, de modo particular, foi porque como pessoa jurídica não pude mais me valer da Lei de Incentivo do Estado ou do Município. Então, tive que recorrer a alguns bons amigos e explorar a mão-de-obra caseira. A Ivete, sempre ela, encarregou-se da produção, fotografia. A Maíra, jornalista e minha primogênita, fez a apresentação. Larissa, publicitária, cuidou da arte com o Dim e da divulgação. Paula, também jornalista, posou para a capa. Tiago, jornalista, ajudou na pesquisa e fez a revisão. Sara, advogada, embora more longe, está a postos para resolver qualquer encrenca. E as netas Ana Clara, Amanda e Júlia também posaram para capa sem cobrar cachê

domingo, 18 de julho de 2010

Depois da tragédia, comerciantes começam a contabilizar prejuízos

Depois da tragédia, comerciantes começam a contabilizar prejuízos



Dom, 18 de Julho de 2010 10:29 Alexandre Lima Avaliação do Usuário: / 4
O incêndio foi causado por curto que partiu de um poste que estava do lado oposto da rua e atingiu um dos comércio e facilmente se propagou
Horas após debelarem as chamas que consumiram mais de 15 lojas no centro de Brasiléia durante a madrugada deste domingo (18), já com o dia claro, dava para ver o prejuízo causado.
Segundo um bombeiro que pegou um depoimento de uma testemunha, o incêndio foi causado por curto que partiu de um poste que estava do lado oposto da rua e atingiu um dos comércio e facilmente se propagou.
Poucos tiveram a sorte de ter parte do estoque (roupas, calçados, etc.), móveis, geladeiras, entre outros objetos, de serem retirados por populares e policiais que chegaram a tempo.
As lojas afetadas, todas forma erguidas a muitos anos de forma conjugada, ligadas uma as outras e de madeira, o que ajudou na rápida propagação das chamas.
A prefeita de Brasiléia, Leila Galvão, esteve no local onde prestou solidariedade aos comerciantes. Segundo a gestora, estará entrando em contato com o Governo para ver uma forma de poder ajudar as pessoas atingidas.
Muitos que perderam seu comércio, tiravam o sustento de sua família e tinha como única fonte de renda. Alguns, não tiveram chance de retirar uma peça de roupa sequer , juntamente com documentos.
Segundo uma das vítimas que possuía uma malharia; “Perdemos tudo. Máquinas, computadores, roupas, tecidos, faturas a receber e pagar”, disse desolado olhando para o local onde havia a loja.
Policiais militares estavam no local para estabelecer a ordem e evitar que houvesse saques do que havia sido salvo do incêndio. Foi levantado também que o local com os demais que não foram atingidos, é considerado área de risco.

Incêndio destrói cerca de 15 lojas no centro de Brasiléia

Incêndio destrói cerca de 15 lojas no centro de Brasiléia



Dom, 18 de Julho de 2010 07:28 Alexandre Lima Avaliação do Usuário: / 12



Um curto na rede elétrica de uma das lojas pode ter sido a causa da tragédia

Por volta das 3h40 da madrugada deste domingo, um incêndio que teve início em uma das lojas no centro comercial de Brasiléia, fez com que cerca de 15 lojas fossem consumidas pelas chamas causando desespero e prejuízo para muitos.

Lojas de roupas, pensões, botecos, açougue, malharia e mercearias foram incendiadas. Mesmo com a ajuda de muitas pessoas e policiais que chegaram a derrubar as portas para retirar e tentar salvar parte do que havia dentro, o desespero de alguns proprietários por pouco não termina em tragédia.


Os bombeiros foram acionados e tentaram debelar as chamas que se espalhavam para os dois lados. A luta demorou mais de duas horas e foi preciso trazer duas máquinas para derrubar alguns comércios na tentativa de impedir a propagação do das chamas.


Alguns comerciantes não tiveram tempo de salvar nada e perderam tudo ficando apenas com a roupa do corpo. Devido a intensidade do calor, as lojas que ficam do outro lado da rua, tiveram suas fachadas derretidas e era nítido o medo de suas lojas incendiassem. Até mesmo os bombeiros do lado boliviano foi acionado e vieram ajudar.
Ineficiência dos equipamentos dos Bombeiros e companhia de eletricidade
O trabalho dos bombeiros para apagar as chamas foi necessário e eficiente. Mas, o que chamou mais a atenção, foi ineficiência dos equipamentos disponível. Segundo foi apurado e comprovado, apenas dois caminhões de pequeno porte dava auxílio no combate ao fogo.
Foi preciso recrutar caminhões pipas das cidades de Brasiléia e Epitaciolândia para ajudar. Foi dito que o caminhão com a capacidade de 10 mil litros foi levado para a Capital deixando apenas dois com capacidade de 3 mil, o que dificultou muito o combate das chamas.
Com risco de causar um grande curto na rede elétrica colocando a vida dos bombeiros e populares que ajudavam, a ineficiência do 0800 da companhia de eletricidade de nada adiantou para cortar a eletricidade.
A atendente pedia um número de um dos contadores para que pudesse pedir o corte da rede, senão, nada poderia fazer. Mesmo o pedido sendo feito por um policial militar.


Cerca de 500 comércios ficaram sob perigo


Caso as chamas não fossem debeladas a tempo, todo o comércio existente na beira do rio Acre seriam consumidos. A tragédia seria maior e cerca de 500 prédios correram risco.


Muitos prevendo o pior, corriam para retirar o que havia dentro com ajuda de populares. Ainda é cedo para calcular os prejuízos, mas, alguns terão de começar tudo de novo. Não foi registrado nenhum caso de morte ou feridos.

Projeto Memórias da História Acreana

Qui, 01 de Julho de 2010 14:12

Memórias da História Acreana
Por Brenna Amâncio









A Biblioteca da Floresta está realizando o Projeto Memórias dos Movimentos Socioambientais do Acre, com o objetivo de obter novas fontes que tragam informações ou relatem suas experiências ao longo da história do Acre. Não se conformando com os livros e documentos oficiais, há a preocupação de também ouvir outras narrações, de pessoas com pontos de vista diferentes, porém tão verídicos quanto quaisquer outros.

Na bagagem deste projeto, a Biblioteca adota o curso Memória, História e Oralidade, buscando qualidade no trabalho de registrar as várias histórias acreanas. Desta forma, a equipe que atua no projeto está sendo preparada para lidar com estas novas fontes, reconhecendo seu compromisso e responsabilidade.

O curso está formando também representantes de entidades parceiras da Biblioteca e também ligadas às questões de História e Memória. São elas: o Departamento de Patrimônio Histórico, Museu da Borracha, Palácio Rio Branco, Secretaria de Educação, Núcleo de Educação Escolar Indígena, Confraria da Revolução Acreana, Palácio Rio Branco, Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) e Universidade Federal do Acre (UFAC).
Quem ministra o curso é Cezar Karpinski, doutorando em História pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ele tem realizado com a turma reflexões acerca da lembrança, memória e troca de saberes e poderes entre segmentos sociais envolvidos com as histórias e as realidades do povo acreano. Essa preparação foi pensada como uma maneira de dar apoio teórico-metodológico dentro das pesquisas feitas pela instituição.
O curso traz também reflexões acerca da idéia de verdade. Há algum tempo só era considerado fato verídico o que estivesse descrito em forma de documento carimbado e assinado pelo governo ou instituição oficial. No entanto, essa visão já tem mudado, e o que antes não passava de contos dos velhos seringueiros e bravos heróis da floresta acreana, agora faz parte da memória do Estado e deve ser vista com tal valor.
Com duração de 120 horas de aulas, o curso é dividido em partes teóricas, expositivas e práticas. Acompanhados por Karpinski, os técnicos da Biblioteca e demais participantes fazem entrevistas com os povos da floresta, ampliando o acervo do Projeto Memória dos Movimentos Socioambientais do Acre e registrando a memória dos participantes desses episódios do estado.
Muitas das mais significativas histórias dos movimentos socioambientais estão guardados na memória de pessoas comuns que viveram de perto as transições e mudanças do Estado, além de também estarem guardadas em acervos de organizações não governamentais e sindicatos, em arquivos de pesquisadores e jornalistas. Isso deve ser trazido e exposto a toda sociedade.
Em combinação com o projeto foram selecionados e digitalizados documentos, fotos, filmes e áudios referentes aos seguintes temas: Chico Mendes, Projetos Seringueiro e Criação de Reservas Extrativistas dos arquivos do Centro dos Trabalhadores da Amazônia - CTA, Instituto de Estudos Amazônicos - IEA, TV Aldeia, jornalista Elson Martins e antropóloga Mary Allegretti. Depois de sistematizado, o material será incorporado ao acervo da Biblioteca da Floresta e estará disponível para consulta.





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