quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O VARADOURO EDIÇÃO 24

Varadouro 24: missão cumprida
 
Elson Martins
Um pé de maconha em fotografia arregaçada na capa do jornal? Só o jornal Varadouro tinha tanta ousadia! Afinal, o ano era 1981, o país ainda vivia sob uma ditadura militar e o Acre – meu Deus! – que garantia podia oferecer a um grupo de jornalistas que há quatro anos cutucava a onça com vara curta? Mas estava lá, na capa da edição 24 (a última) que circulou em dezembro, a matéria com o título “Maconha: ilusão ou busca”?
Por que maconha na capa do Varadouro? – indagam os próprios editores do jornal pensando na explicação que queriam dar no pequeno editorial (sempre disfarçado de “neste número”) na segunda página:
“Em primeiro lugar, porque para nós não existem temas proibidos. Todos os assuntos de importância social são tratados com franqueza e coragem”. O jornal informa que a maconha joga milhares de jovens na marginalidade e nas garras da polícia, e que em Rio Branco teriam sido presos 100 fumantes entre janeiro e outubro daquele ano.
Na pagina 6 a matéria é desenvolvida com o título: “Por que se fuma maconha? E são os usuários que respondem: uma universitária, uma funcionária pública e um artista deram depoimento falando de suas experiências com a droga. Claro, sem serem identificados. A fotografia que ilustra a matéria mostra uma jovem caminhando junto a um muro onde se lê a pichação: “Cresça, faça a cabeça”! Na contracapa da edição, mais provocação: o desenhista Branco faz uma viagem pelo “Dai-me astral”.
No mais, era o Varadouro de sempre, com destaque para a matéria das páginas centrais: “O que o acreano espera de 82”, ou seja, qual a expectativa da população sobre as eleições daquele ano? A secretária da associação das lavadeiras de Rio Branco, Maria Costa dos Santos, nascida em Sena Madureira, 30 anos e 10 filhos, dá uma resposta consciente e engajada: “Estou confiante não por causa dos políticos, mas por causa do povo”.
Na página 18 tem uma matéria que até hoje sugere reflexão: “Seringueiro não vira colono paranaense”. Nas assembléias dos seringueiros organizados em sindicatos a partir de 1975, era comum ouvir-se que eles não queriam trocar sua colocação de seringa dentro da mata, com 300 hectares de floresta, por um lote do Incra de 100 ou menos, voltado para a produção agrícola. Anos depois (1990) eles conquistariam as Reservas Extrativistas.
Desta forma, com brilho, Varadouro fechou seu curto ciclo de vida. Mas seus editores nunca imaginaram que aquela edição era a última, como bem observou o sociólogo Pedro Vicente Costa Sobrinho, no seu livro Comunicação Alternativa e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental (2001). Segundo ele, Varadouro estava fadado a acompanhar o destino dos irmãos alternativos do resto do país. “Na notícia do desaparecimento do jornal Movimento, que foi veiculado neste número 24, Varadouro cometeu uma grave omissão: deixou de também incluir no texto o seu próprio desaparecimento, pois a partir daí sumiu sem uma explicação para o seu público” – escreveu.

sábado, 27 de novembro de 2010

RESENHA

A obra Chico Mendes Um povo da floresta, contém a revisão de Fernanda Perestrelho, editoração eletrônica de Dilmo Milheiros, tem 104 páginas, diversas imagens e 14x21 cm. Esta dividida em: Prefácio, oito subtítulos (Uma chamada a cobrar; Marcado para morrer; O começo; A cabeça da cobra; A união da fé com a vida; Mata Atlântica e Amazônia, Adeus Mogno Substitui Ciclo do ouro; Chico Mendes defesa da vida),e Epilogo. Este livro, que tem apresentação de Fernando Gabeira, mais que uma grande homenagem a Chico é uma história de sua vida, suas ideias e suas lutas.


Uma chamada a cobrar retrata certamente da primeira noticia da morte do assassinato do seringueiro Chico Mendes, num diálogo ente Rio e Rio Branco, capital do Acre. A ligação a cobrar foi feita por Élson Martins, avisando a Edilson no Sul, que tinham assassinado o Chico dentro de sua própria casa. Nesta ocasião Élson pergunta da entrevista feita com Chico Mendes a treze dias a trás, então o autor relembra do momento da entrevista ocorrida no velho restaurante Lamas ,no Rio, pouco antes do assassinato de Chico: não só teve que pagar o jantar ,seu amigo seringueiro vivia sem recursos, também constatou, que naquele exato momento naquele local que as pessoas nem imaginavam quem era Chico Mendes, aquele homem famoso, por sua luta em todo o planeta, premiado pela ONU, ouvido no congresso americano, era simplesmente ignorado no Brasil.


Portanto o livro é com base em entrevistas feita com o líder seringueiro Chico Mendes, uma no dia 09 de dezembro de 1988, treze dias antes do assassinato do líder seringueiro, na qual só foi publicada pelo o jornal do Brasil no dia 24 de dezembro, dois dias depois da morte de Chico, tal entrevista, injuriou o país e escandalizou o mundo.


Nesta entrevista Chico Mendes conta que esta marcada pra morrer, na qual recebe ameaças de dois fazendeiros de Xapuri, os proprietários da fazenda Paraná, Darly Alves e Alvarinho Alves. São irmãos. Faz denuncias graves, a respeito, desses fazendeiros, inclusive sobre a emboscada que matou Ivair Higino no dia 18 de junho, e em seguida já no mês de agosto José Ribeiro também foi assassinado por pistoleiros.


Perguntado sobre o que é o empate, Chico responde da seguinte maneira: É uma forma de luta que nós encontramos para impedir o desmatamento. É uma forma pacífica de resistência. No início, não soubemos agir. Começavam os desmatamentos e nós, ingenuamente, íamos à justiça, ao Instituto Brasileiro de desenvolvimento Florestal e aos Jornais denunciar. Não adiantava anda. No empate a comunidade se organizava em mutirão, sob a liderança do sindicato, e se dirige á área que será desmatada pelos pecuaristas. A gente se coloca diante dos peões e jagunços com as nossas famílias, mulheres, crianças e velhos e pedimos para eles não desmatarem e se retirarem do local. Eles, como trabalhadores, a gente explica, também estão com o futuro ameaçado. E esse discurso emocionado sempre gera resultados. Até porque quem desmata é peão simples, indefeso e inconsciente.


Em 1988, meses antes de sua morte, o governo federal, por meio do Ministério da Reforma Agrária, instalou a primeira reserva extrativista na Amazônia, cuja responsabilidade de organização ficou a cargo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.






O autor cita algumas características do seringueiro Chico Mendes, tinha a fala mansa, simples até não poder mais, capaz de conversar com as mais diferentes correntes. Diz que o assassinato de Chico Mendes foi uma ampla articulação envolvendo poderosos segmentos da sociedade Amazônica. A família Alves, Darly, Alvarino, Darcy, Olossi e seus asseclas, nada mais são do que o rabo da cobra. A cabeça da cobra, conforme lembram os seringueiros, continuam intactos, escondida e muito bem protegida.


Nasce o sindicato, a criação do sindicato dos trabalhadores rurais de Brasiléia, no Acre na segunda metade da década de 70, nada mais que resultado de uma luta que já dura um século. Chico Mendes presidiu o sindicato em Xapuri, mas o movimento tem suas raízes na residência dos seringueiros para não permitir que a selva amazônica seja queimada, e ,transformada em pasto para a implantação das grandes fazendas.


O livro contem outra entrevista com Chico que foi realizada pelos os integrantes da secretaria de meio ambiente da CUT durante o 3º congresso da entidade, em 9 de setembro de 1988.Sua reprodução neste livro foi gentilmente autorizada pela CUT do Acre. Nesta entrevista ele fala da vinda dos fazendeiros sulista que vinheram implantar a pecuária na região Amazônica inclusive no Acre. Naquele momento todos vivia nas matas, ninguém tinham consciência de luta. Os filhos dos seringueiros não tinham direito de ir na escola se não iam aprender a ler a fazer contas, e iam descobri que estavam sendo roubados. Porque na verdade quando os nordestinos chagavam a Amazônia, não tinha mais como voltar. Estava preso pelo rio, caminhavam horas na mata, havia índios que resistiam e que matavam, além da malária e de outras doenças. Os que conseguiam sobreviver ,quando conseguiam um saldo que concretizaria o seu sonho de voltar a terra natal, não eram reembolsados.


Então lendo o esta obra conclui-se que se trata de uma forma, de divulgar, a luta dos povos da floretas em manter suas áreas ,em manter a floreta viva e o reconhecimento que a morte de Chico mendes veio trazer para o mesmo, onde ficou tido como um herói em defesa do ,meio ambiente ,e que na verdade, ele lutava para ter o direito de permanecer em suas terras, com seus modos de vida ,costumes, ao tempo que estavam sendo expulsos para da vez a implantação da pecuária. No entanto isso é visível no livro. A ressalva que aqui faço é o cuidado que devemos ter em usar a figura de Chico Mendes, pois o que acontece é uso de um personagem para jogadas politica. Devemos ter o exemplo desse líder seringueiro para reforçamos a consciência de preservar, fazer o uso sustentável dos recursos naturais.


Portanto recomendo a obra aos leitores, principalmente aqueles que lutam e buscam um mundo melhor ,mais saudável, que condenam os desmatamento, que se preocupam com as gerações futuras.


Edilson Martins nasceu num seringal do Acre e, anos depois, seu trabalho de jornalista o levou a conviver com Chico Mendes em Xapuri (onde realizou um vídeo sobre as lutas dos seringueiros, no Rio e em São Paulo. Tornando-se amigo e parceiros. Martins tem diversas publicações como: "Nossos Índios, nossos mortos”, Amazônia, a última fronteira, "nós do Araguaia, Chico Mendes, Um povo da floresta" ,este último falarei mais adiante do que se trata .


Falando ainda de Edilson Martins, trabalha com campanhas políticas há quase 20 anos, mas já ganhou o premio Wladimir Herzog e passou pelo Jornal do Brasil, o Globo, Manchete, Pasquim, Globo repórter, entre outros. No Acre, formatou programas para o governo de Jorge Viana, programas para o horário eleitoral do PT e para Marina Silva. No Espirito Santo trabalhou para o governo petista de Vitor Bauiz.


Flaviana Coimbra, formada em técnico em ecoturismo, acadêmica de História pela Universidade Federal do Acre, estagiária da Biblioteca da Floresta.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Parque Nacional da Serra do Divisor

FORMOSA

O Parque Nacional da Serra do Divisor é um cenário de pura natureza, rodeado pelo rio Môa é parte da Amazônia escondida em meio a extensa Floresta Amazônica. Um lugar pouco desbravado e com importância significativa para as gerações futuras. Preservar com sabedoria o que durou séculos para ser criado, desennvolvido, é gostar da vida, amar o próximo e exaltar a natureza na sua mais subleme criação.
E olha só a galera técnica em Ecoturismo desfrutando de tanta
beleza.



ALDEIA NUKINIS

NO PÉ DA SERRA



CACHOEIRA DO AR CONDICIONADO



BURACO CENTRAL

CACHOEIRA DO BURACO CENTRAL

NO RIO MÔA

FOTOS DIVERSOS ESCOLA DA FLORESTA









técnicos agrofloestal da escola da floresta 2005/2006





















Governo abre concurso para contratação de 800 professores efetivos

Governo abre concurso para contratação de 800 professores efetivos

Sex, 08 de Outubro de 2010 19:31 Ernani Baracho e Edmilson Ferreira Avaliação do Usuário: / 1



Novos contratados atendem ao crescimento da rede estadual de ensino













No período de 2007 a 2010 o governador Binho Marques inaugurou no Acre 35 Escolas Urbanas, 16 Escolas Rurais e 13 Escolas Indígenas sem contar as reformas e ampliações de unidades de ensino, que somam mais de R$ 99 milhões em investimentos. O aumento no número de escolas fez crescer o número de matrículas e, consequentemente, a demanda por professores em sala de aula. É por isso, que o Governo do Estado prepara o concurso para provimento de cargos efetivos na Secretaria de Educação. O decreto que institui a criação de uma comissão para coordenar o certame foi divulgado no Diário Oficial desta sexta-feira, 08. O edital completo com todas as informações estará disponível na próxima semana.





Novos contratados irão atender às demandas da ampliação da rede estadual de ensino em todo Acre (Fotos: Secom)



De acordo com a secretária de Educação, Maria Corrêa, o concurso vai disponibilizar 800 vagas, além de gerar cadastro de reserva para atender futuras necessidades. Há vagas para os 22 municípios acreanos, sendo que, Rio Branco e Cruzeiro do Sul serão os municípios com maior número de oferta.



O concurso vai oferecer vagas nas áreas de Pedagogia, Artes, Biologia/Ciências, Matemática, Português, Física, Química, Filosofia, Sociologia, História, Geografia, Inglês, Espanhol e Educação Física. As provas acontecerão em cidades polos, com data ainda não definida. "Vamos nos reunir para trabalhar toda a logística do concurso e decidir qual a empresa responsável pela aplicação e realização das provas", declarou a Secretária.



O último concurso realizado pelo Estado foi em 2005, no qual foram disponibilizadas 1.300 vagas, que já foram todas preenchidas.





Governo investe na construção e padronização das escolas em todo Estado (Foto: Sérgio Vale/Arquivo Secom)



Expansão da matrícula incluiu todos em qualquer lugar



Vagas serão para todos os 22 municipios do Estado (Foto: Assessoria SEE)Os novos professores irão atender à grande oferta de matrículas no Acre. Em 2009, foram 159 mil alunos matriculados na rede pública, enquanto neste ano, 165 mil estudantes fazem parte do cadastro escolar. Para se compreender melhor os avanços, a educação indígena subiu de 5.000 vagas em 2006 para 7.450 vagas em 2008, alcançando o número de 163 escolas indígenas estaduais. Até o final deste ano serão 189 salas multifuncionais para ampliar a inclusão de alunos com deficiência.

Hoje, o Ensino Médio é uma realidade em todos os municípios, mas até 1999 eram poucos os que tinham essa modalidade de ensino. O número de alunos neste nível saiu de 18 mil, em 1999, para cerca de 40 mil em 2010.



Outro fator de destaque é a redução do analfabetismo na população acima de 15 anos, que era de 24,5% em 1999 e passou para 13,7% em 2009. O projeto Poronga reduziu pela metade o grave problema da distorção idade/série, recuperando a esperança de milhares de jovens e adultos.



Em dez anos, foram implantadas 827 obras de educação no Acre com investimentos diretos de mais de R$190 milhões, e uma das mudanças mais interessantes foi a padronização e a regionalização (zoneamento) das escolas. Com esse zoneamento, o aluno não precisa sair de sua região para ingressar numa nova fase. O zoneamento escolar facilita a matrícula e evita a sobra de vagas ou a superlotação.



Escolas de qualidade da capital ao interior

Independe de ser na zona rural, urbana ou na aldeia indígena: o padrão das escolas construídas ao longo dos últimos 12 anos é de alta qualidade - muito diferente de uma realidade não tão distante: até 1999, os professores eram mal pagos e recebiam salários atrasados; não tinham livros; não havia equipamentos nas escolas que eram cinzentas e feias. Hoje, o ambiente é muito mais bonito, agradável e produtivo para alunos e professores, o que contribuiu para que o Acre hoje esteja entre os nove Estados com melhor desempenho na educação do país.





Padrão das escolas construídas ao longo dos últimos 12 anos é de alta qualidade (Foto: Secom)



Apenas no governo Binho Marques foram 226 escolas construídas, reformadas ou ampliadas. Além disso, a implantação do ensino fundamental de nove anos possibilitou a construção de 100 salas de aula em todo Estado e matrícula de seis mil crianças em 2008, ano em que entrou em vigor o novo período.



Formação de professores e valorização do magistério



Política do Governo do Estado irá fazer do Acre o primeiro estado do País a ter 100% dos professores com formação superior (Foto: Gleilson Miranda/Secom)Além da estrutura física, o Governo do Acre investe, desde 1999, mais de R$ 47 milhões na formação superior dos professores da rede pública de ensino. Naquele ano, apenas 28% dos docentes possuíam diploma universitário e hoje mais de 90% conseguiram formação de nível superior. O Estado consolidou parcerias importantes, como a com a Universidade de Brasília, que promove o ensino à distância; e Universidade Federal do Acre, que conduz o ensino presencial aos professores estaduais.

O pagamento dos salários está em dia há 12 anos, período em que ocorreu a graduação de mais de 80% dos docentes estaduais em nível superior. Com isso, o Acre será o primeiro Estado do país a ter 100% dos professores com diploma de terceiro grau. A valorização dos trabalhadores em educação é política de Estado.



Para se ter uma ideia dos tempos difíceis, a folha de pagamento da educação saiu de R$5 milhões, em 1999, para mais de R$32 milhões este ano, sendo que 80% dos recursos da educação são destinados à remuneração. Sobretudo, foram investidos mais de R$50 milhões só com a formação de nível superior.

técnicos na pousada vila brasilía 2006







sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Videos BIBLIOTECA DA FLORESTA

http://www.youtube.com/watch?v=JjnDtKyvuec
http://www.youtube.com/watch?v=KFkSh9iEBGE

FLAVIANA COIMBRA: Silvio Martinello lança seu novo livro ‘ACRE

FLAVIANA COIMBRA: Silvio Martinello lança seu novo livro ‘ACRE

MEIO AMBIENTE

Desmatamento na Amazônia cai 47% em agosto

Luana Lourenço, repórter da Agência Brasil

Sex, 08 de Outubro de 2010 10:00

Na comparação com agosto de 2009, quando os satélites registraram 498 km² de derrubadas, houve redução de 47%



Em agosto, a Amazônia perdeu 265 quilômetros quadrados (km²) de floresta, de acordo com os dados do sistema Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), divulgados hoje (8) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na comparação com agosto de 2009, quando os satélites registraram 498 km² de derrubadas, houve redução de 47%.



A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que o número confirma a tendência de queda do desmate na região nos últimos meses. “Está se confirmando um padrão sustentável de redução do desmatamento”, avaliou.



Em agosto, o Pará liderou o desmate na região, com 134 km² de desmate, seguido por Mato Grosso, com 54,85 km² e pelo Amazonas, com 26,4 km² a menos de florestas no período.



No acumulado de janeiro a agosto deste ano, os números do Inpe apontam redução do desmatamento em quase todos os estados da Amazônia Legal, menos no Amazonas. “O Amazonas ainda representa esse vazamento. Estamos em campo procurando entender se é uma nova vertente de desmatamento, se é uma nova ocupação de território”, disse a ministra.



O Deter monitora áreas maiores do que 25 hectares e direciona a fiscalização ambiental.



A taxa anual de desmatamento é calculada por outro sistema, o Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), que é mais preciso, por avaliar áreas menores. Apesar da metodologia diferente, a avaliação do Deter costuma antecipar os resultados do Prodes.



Os dados do Prodes para o período 2009/2010 devem ser apresentados em novembro. Se a tendência de queda se confirmar, o governo espera chegar a um novo recorde de queda do desmatamento. Em 2008/2009, a taxa anual de desmate calculada pelo Inpe foi de 7,4 mil km², a menor registrada em 20 anos de monitoramento.



Edição: Lílian Beraldo

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Fome de Marina

A Fome de Marina

Por José Ribamar Bessa Freire*
Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.
Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.
De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.
A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.
Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.
Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.
Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.
Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco, quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.
Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.
Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.
Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il pète de santé”.
O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.
(*) Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Silvio Martinello lança seu novo livro ‘ACRE

Por Geisy Negreiros, do jornal A Gazeta   
Sex, 03 de Setembro de 2010 09:30
Quarta obra do jornalista sobre a história do Acre será lançada na próxima segunda-feira, 6, às 19h30, no Memorial dos Autonomistas

Silvio Martinello: "o livro tem cheiro de bicho, de mato, de sangue, mas também muita política"
Depois de A Ilha da Consciência, Corações de Borracha e Amanda, o jornalista e escritor Silvio Martinello admite que exagerou neste seu novo livro, ACRE – onde o vento faz a curva, que será lançado na próxima segunda-feira, 6, às 19h30, no Memorial dos Autonomistas.

O jornalista pegou - ou teria seqüestrado? - um Boeing em Rio Branco e o jogou em um descampado no meio da floresta amazônica. Como ele descreve, “era uma noite estranha, muita estranha”.

O Acre, pelo menos, como ele também observa, “estava fora dos eixos”, porque naquele avião estavam representadas todas as classes sociais do Estado. Nesta clareira, ou seria um geoglifo ou um sítio arqueológico? - os passageiros, primeiro, terão que sobreviver a partir do nada.

Como tudo no Boeing fora sabotado, terão que começar pelo fogo friccionando os pauzinhos como “homens e mulheres das cavernas”. A procurar água e comida na selva. A se defender dos predadores. Porém, seus problemas não acabam aí. Além de sobreviver nas condições mais adversas, os passageiros do Boeing terão que se entender. Divididos em partidos políticos, religiões e seitas, clubes de futebol e galeras, vai ser dureza suportarem uns aos outros, repartirem as tarefas, comerem da mesma comida, dividir a mesma oca.


Catarinense de Criciúma, Martinello vive no Acre há mais de 30 anos e não esconde a paixão pela terra: "o Acre é mágico, enjoado, abusado e tudo pode acontecer"


E aí começam a surgir e sobressair todo tipo de personagens, como o indigenista Leonardo, um “petista hormonal”, e sua Daní Huni Kui; conservacionistas do “verde” e desenvolvimentistas do “manejo”, que já não estão se entendendo; floresteiros e fazendeiros;  empreiteiros do PAC; índios “fofinhos” e índios “caçadores de cabeça”; narcotraficantes e guerrilheiros; jornalistas, blogueiros, twitteiros, gringos e ongueiros.

Até atores globais e hollywoodianos. Para atazanar a paciência de todos, um sujeito insolente, cara-azeda-de-quandu.  Contudo, ACRE – onde o vento faz a curva não é apenas uma diversão, uma aventura. Valendo-se de seu estilo ágil, sardônico, Silvio Martinello leva o leitor a uma reflexão sobre a história do Acre, seus heróis, suas idiossincrasias, chegando até ao “bom momento” atual que o Estado está vivendo.

Tem mais, este quarto livro de Silvio Martinello contém uma história em si mesmo. Como ele diz, na entrevista a seguir, “tem cheiro de bicho, de mato, de sangue, mas também muita política”, e um grande susto.


A GAZETA – Por que seu livro tem “cheiro de bicho, de mato, de sangue, mas também  muita política”?

Silvio Martinello -
Porque, além da história ser ambientada quase toda no meio da floresta, com muito verde, muitos bichos de todas as espécies e tamanhos, o livro foi escrito na Colocação Mulateiro, um pedacinho, uma nesga de alguns hectares de floresta, localizada aqui perto de Rio Branco.

Ao longo dela, corre um igarapé, onde ainda se podem ver jacarés, pacas, cutias, coatipurus, capivaras. Até uma sucuri mora em um dos poços. Foi observando esses bichos e seus comportamentos que surgiram alguns personagens do livro.

A GAZETA – Por exemplo?

Silvio Martinello -
Um sujeito insolente, folgado, um rebelde sem causa, que vive a aporrinhar os sobreviventes do Boeing que cai - ou é abduzido - no meio da selva. Ninguém pode propor nada para se safarem daquela situação, ninguém pode encostar, chegar perto que ele vai soltando desaforos. Foi observando um porco-espinho, que vem à noite comer as talas de coqueiros, que me ocorreu a idéia de apelidar esse personagem de cara-azeda-de-quandu. Quandu é como os seringueiros chamam o porco-espinho ou ouriço caixeiro.  Uma noite, o cachorro do caseiro acuou o bicho e o cachorro levou a pior. Correu da briga com o focinho cravejado de espinhos que o quandu soltou de sua carcaça.

A GAZETA – Outro exemplo?

Silvio  Martinello -
Os macacos-de-cheiro. Foi também observando o comportamento desses macacos que os coloquei no livro. Como o quandu, eles também saem da mata e vêm em bandos comer banana, goiaba, manga, todo tipo de frutas que encontram na colocação. Ao contrário, porém, do quandu, eles são muito companheiros, solidários entre si.

As mães têm um cuidado todo especial com os filhotes. Por isso, que eles aparecem no livro oferecendo frutas para os sobreviventes do avião. Porém, ficam atônitos e irritados quando se deparam com um grupo de sobreviventes, seus “primos” no topo da cadeia evolutiva, brigando por algumas barras de cereais.

A GAZETA -  E a história do susto? Foi também algum bicho, alguma onça que apareceu na Colocação Mulateiro?


Silvio Martinello –
Pior do que onça. No dia em que escrevi o último capítulo, em maio, salvo engano, à noite, ladrões arrombaram a casa e, claro, entre outros objetos, levaram o computador. Por sorte, algumas semanas antes, a Ivete, sempre ela, por isso que é minha musa, havia feito o back up e foi possível recuperar o livro. Mesmo assim, tive que reescrever os últimos capítulos e as correções que já havia feito. Deu um trabalhão. Mas não foi por falta de aviso, porque Ivete vivia avisando: “Cuidado! Faça cópias! Você é muito relaxado, ainda vai perder esse livro”.

A GAZETA – Por que o título ACRE – onde o vento faz a curva? É apenas uma expressão, uma brincadeira ou é mesmo verdade que o vento faz a curva no Acre?

Silvio Martinello –
Como os meus 37 leitores poderão conferir no começo do livro, meu assessor para assuntos meteorológicos, El Brujo, Davi Friale, prova com sólidos argumentos e gráficos que é a mais pura verdade: o vento faz sim a curva no Acre. Em resumo, tudo se explica pelo paredão que faz a Cordilheira dos Andes. Outros estudiosos torcem um pouco o nariz para esta história, mas acabam concordando, em termos. Além disso, é preciso sempre partir do princípio de que o Acre é mágico, enjoado, abusado e tudo pode acontecer.

A GAZETA – Como assim, tudo pode acontecer?


Silvio Martinello – É outro capítulo do livro. Assim que o Boeing levanta vôo do aeroporto de Rio Branco é tragado por uma ventania muito forte.  O piloto jura que vê os mesmos objetos voadores não identificados que uma equipe da TV GAZETA chegou a filmar.

A partir daí, tudo se apaga, tudo  é sabotado no avião. Mesmo assim, perdendo, completamente, o controle, a aeronave consegue pousar inteira – ou é abduzida – em uma clareira rasgada no meio da selva amazônica. Eu te pergunto: o que vem a ser essa clareira?

A GAZETA – Huumm? Sei lá, uma área desmatada, uma fazenda?


Silvio Martinello - Negativo. É um geoglifo. Ora, existem coisas mais fantásticas, mais misteriosas, mais mágicas do que esses 300 geoglifos que foram descobertos no Acre, sobre os quais, a rigor, ainda não se sabe quem os construiu e com que finalidade?

A GAZETA – E aí o que acontece com o Boeing e com os passageiros que pousam no geoglifo?

Silvio Martinello –
Tudo o que você possa imaginar. Mas aí também você já está querendo demais, que eu conte tudo sobre o livro.


A GAZETA – Tudo bem. O senhor ou você já escreveu três livros, abordando os três grandes momentos ou Ciclos Econômicos do Acre. A Ilha da Consciência, que trata sobre os primórdios da conquista do Acre. O segundo, Corações de Borracha, sobre os Soldados da Borracha, durante a Segunda Guerra. O terceiro, Amanda, sobre a entrada da pecuária no Estado, na década de setenta. Este quarto livro, Acre – onde o vento faz a curva, além desses fenômenos do vento fazendo a curva, de óvnis, geoglifos, trata do que?

Silvio Martinello – Quer saber mesmo? Do atual ciclo, que chamo de o Ciclo do Asfalto e do Concreto, esse “bom momento” que o Acre está vivendo. Por isso, também, que o livro contém muita política. Leonardo, por exemplo, um dos principais personagens, é um “petista hormonal”, que pega briga feia de rua, para defender seu ídolo maior, o presidente Lula. Mas, é um idiota em política, em governabilidade e entra em profunda depressão quando estoura o “escândalo do mensalão”. Como existem situa-ções, personagens reais e fictícios, também não vou falar mais. É preciso ler o livro.

A GAZETA – Tudo bem. Como o senhor – desculpe, você – lida com este drama da concorrência da internet, vivido hoje pelos escritores e também por nós jornalistas dos jornais impressos?

Silvio Martinello –
Quando surgiu esse fantástico mundo virtual, da internet e tudo o que se seguiu e ainda está por acontecer, confesso que sofri um bocado. As tiragens dos jornais despencaram, os livros viraram objetos de decoração nas estantes. Hoje, não sofro mais, porque já está havendo uma reacomodação das diversas mídias.

Cada qual – o jornal, o livro, a televisão, o rádio, os sites, os blogs, o twitter etc. – vão ocupando seus devidos espaços. Aliás, este também é um tema que trato em um dos capítulos do livro. Quando o indigenista Leonardo entra no Boeing e vai logo pedindo um jornal, a aeromoça responde: “não servimos mais este tipo prato, senhor”. Ele fica muito puto.

A GAZETA Por quê?

Silvio Martinello – Primeiro, porque é um turrão. Não quer dar o braço a torcer para as novas mídias. Depois, porque ele não imagina uma civilização, uma sociedade sem livros, sem jornais, sem bibliotecas, sem teatros. Em termos, concordo com ele: até que houver gente pesquisando, escrevendo, lendo, contando histórias, fazendo teatro, compondo músicas, haverá esperanças de um mundo melhor, civilizado, democrático, solidário. Quando isso cessar, será a estupidez, o egoísmo, os fundamentalismos, a barbárie.

A GAZETA - Como falamos acima, este já é seu quarto livro. Como foi a receptividade de seus livros?

Silvio Martinello
– Não tenho do que reclamar. O primeiro, A Ilha da Consciência, está na segunda edição e praticamente esgotado. Foi tema de um seminário no curso de Letras da Ufac e esta semana, por coincidência, 40 alunos também do curso de Letras me procuraram para fazer um desconto no preço, porque vão fazer outro seminário. O segundo, Corações de Borracha, está esgotado e também foi tema de um seminário na Ufac. Wellington Souza, um formando de Letras da mesma UFac, escolheu os meus livros como tese de seu mestrado.

Resumindo: se o grande escritor russo, Lev Tolstoi, não tivesse dito em 1900 que quando escrevia, escrevia para sua aldeia, eu seria o primeiro a dizer que escrevo para a minha aldeia, o Acre, e isso é muito gratificante. Outro dia, passeando no Parque Chico Mendes, dando banana para os macacos, um bom velhinho com seus 70 e tantos me parou e disse que estava lendo Corações de Borracha; havia chegado à página 275.

A GAZETA – E como é que o senhor - ou você - escreve?

Silvio Martinello
- Bom você perguntar, porque faço sempre questão de ser muito claro e honesto quando piso neste terreno alagadiço. Antes de tudo, sou jornalista, escrevo como jornalista, com a técnica jornalística e a visão do jornalista. Não faço, portanto, concorrência com os literatos, poetas nem com historiadores.

Porém, a nós, jornalistas, é permitido fazer o que se convencionar chamar de “jornalismo literário”, que os americanos chamam de “new journalism”. Não é ainda o meu caso, um dia chego lá (risos), mas no Brasil temos bons jornalistas escritores como Fernando Morais, Carlos Heitor Cony, Elio Gaspari, Laurentino Gomes. Fernando Sabino e Rubem Braga eram bons jornalistas e foram bons escritores. Só para citar alguns.

A GAZETA – E é difícil escrever livro no Acre?


Silvio Martinello
– É. Este, de modo particular, foi porque como pessoa jurídica não pude mais me valer da Lei de Incentivo do Estado ou do Município. Então, tive que recorrer a alguns bons amigos e explorar a mão-de-obra caseira. A Ivete, sempre ela, encarregou-se da produção, fotografia. A Maíra, jornalista e minha primogênita, fez a apresentação. Larissa, publicitária, cuidou da arte com o Dim e da divulgação. Paula, também jornalista, posou para a capa. Tiago, jornalista, ajudou na pesquisa e fez a revisão. Sara, advogada, embora more longe, está a postos para resolver qualquer encrenca. E as netas Ana Clara, Amanda e Júlia também posaram para capa sem cobrar cachê

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