sexta-feira, 9 de julho de 2010

Uma viagem ao Acre selvagem

Edição do dia 09/07/2010
09/07/2010 19h59 - Atualizado em 09/07/2010 20h20

Uma viagem ao Acre selvagem

Repórter conta os bastidores das filmagens no Acre, no meio da Floresta Amazônica.

Francisco José
Francisco José revela alguns detalhes da gravação no interior
 da Floresta AmazônicaRepórter revela detalhes das gravações na Amazônia
Oito dias navegando em canoas, dormindo ao relento, enfrentando os obstáculos deixados pela última enchente, sendo perseguidos pelos piuns e carapanãs, os mosquitos que nos acompanham dia e noite. Subimos os rios Purus e Chandless, para chegar aos últimos habitantes da fronteira oeste brasileira, uma visita ao povo que vive isolado na Floresta Amazônica, no Acre selvagem.
Veja os bastidores das filmagens
Partimos da cidade de Manuel Urbano, na margem do Purus, em duas voadeiras. Um tipo de canoa com motor de popa, muito usado nos rios do norte. Tonéis de combustível ocuparam quase a metade das canoas. Na outra parte do barco, cobertos por lona, estavam a nossa bagagem, o material para acampar, os alimentos e o equipamento para gravações de imagens. No espaço que restou, três pessoas em cada canoa.
Seguimos em uma velocidade de 30 km/h. Mas, logo depois da partida, tivemos que reduzir o ritmo. Verdadeiras armadilhas no meio do rio. Árvores imensas foram arrastadas na cheia do início do ano. E os troncos submersos ameaçam a navegação. Passamos por barcos que estavam encalhados há três dias. Mas fomos em frente, vencendo os obstáculos com dois pilotos experientes: Ed Carlos e Afonso.
Logo no primeiro dia de viagem, encontramos uma sucuriju caçando, na beira do Rio Purus. Uma cobra grande. Ela estava com a metade do corpo fora da água, procurando roedores nos buracos do barranco do rio. Paramos as voadeiras ao lado dela. O cinegrafista San Costa gravou cinco minutos de imagens da serpente. Depois, ela veio na direção das voadeiras, olhou para a câmera e mergulhou para o fundo do rio.
Ao longo da viagem, fomos encontrando canoas com cachorros e caçadores. Os moradores da região são matadores por necessidade e devoção. Matam onças, veados, pacas, jacarés, macacos. Eles comem esses bichos. Contratamos seu Jerônimo, que imita os bichos para atraí-los. Foi nosso guia pela floresta, que ele conhece tão bem.
Chegamos à casa de seu Milton, o último morador da nossa fronteira oeste. Ele vive com a mulher, em uma casinha coberta de palhas, na beira do rio, a cinco dias de viagem em canoa, até a cidade mais próxima. Passa meses sem se deslocar até Manuel Urbano, vivendo exclusivamente da caça, dos vegetais que cultiva e da criação de porcos e galinhas.
Nesse trecho da viagem pelo Acre selvagem, tivemos a companhia do biólogo Jesus Rodrigues, chefe do Parque Estadual Chandless, que tem 695 mil hectares. E nessa imensidão de floresta, vivem apenas 92 pessoas, nas margens do rio. Ele conseguiu impedir o contrabando de animais e a venda do produto da caça, que só é permitida como alimento, para as famílias que vivem isoladas. Com o tempo, ele espera indenizar os moradores, para que eles deixem a área do parque, acabando em definitivo com a caça.
Na segunda etapa da viagem, fomos ao Seringal Cachoeira, onde vive a família do lendário Chico Mendes. Entramos na selva com Nilson Mendes, primo do Chico. Ele conhece as ervas, cascas de árvores e raízes, que podem ser usadas para curar doenças. Nilson é deficiente auditivo, mas consegue imitar e atrair as aves, repetindo seus cantos. A mãe dele, dona Cecília, revela como teve 18 filhos, de parto normal, sem sair do seringal. Curando as doenças com os remédios da floresta.
A editora Cláudia Guimarães fez uma ponte, do seringal no Acre, até as florestas da Nova Zelândia, onde gravamos com um conhecedor de ervas medicinais. Ele nos acompanha pela mata, mostrando que os produtos naturais são suficientes para curar as doenças mais graves.
Estivemos também com um especialista em mel de abelha. Ele tem mais de 90 anos e diz que deve ao mel de uma abelha neozelandesa, a sua vida saudável.

Em Rio Branco, no Acre, encontramos o Dr. Raiz, uma espécie de curandeiro com raízes, garrafadas e substâncias retiradas da Floresta Amazônica. Ele disse que tem o remédio natural que faz as mulheres engravidarem. Não acreditei! E ele me deu o endereço de várias mulheres que recorreram à garrafada para alcançar a fertilidade. Constatamos casos impressionantes. Uma das mulheres estava há dois anos tentando engravidar e não conseguia. Recorreu ao Dr. Raiz e, um mês depois de tomar o remédio à base de plantas, estava grávida. Ela nos apresentou à filhinha dela, que já está com quase dois anos.

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